Carta do III Fórum Regional de Nutrição - Recife

O II Fórum Regional de Nutrição, realizado em Recife , nos dias 20 e 21 de maio de 2005, inserido na programação científica do I Fórum Nacional de Nutrição cujo tema central é "Definindo os rumos da Nutrição no Brasil",

CONSIDERANDO:
  • A baixa participação dos nutricionistas na área de Saúde Pública agravado pelo fato de que as atividades inerentes a este profissional vem sendo desenvolvidas por médicos, enfermeiros, e outros profissionais;
  • Que na região nordeste a hipovitaminose A atinge 16 a 55% das crianças;
  • Que a anemia ferropriva atinge 40 a 50% das crianças menores de 5 anos e 30-40% das gestantes;
  • Que 70 milhões de brasileiros - 40% da população - estão acima do peso e o número mais que dobrou em 30 anos;
  • 17,5 milhões de brasileiros - 10% da população - são obesos com maior prevalência no sexo feminino e de menor renda, sendo responsável por 80 a 100 mil mortes por ano;
  • A obesidade entre crianças e adolescentes passou de 4% para 14% nas últimas 3 décadas;
  • Na região nordeste, a obesidade atinge 2,7% das crianças menores de 5 anos, 4,6% dos adolescentes e 8,5% de adultos;
  • Em Recife, o sobrepeso e a obesidade são mais prevalentes em escolares de alta renda do sexo feminino;
  • As comorbidades da obesidade (diabetes mellitus, dislipidemias, etc) possuem forte impacto social e econômico na área de saúde e da produtividade individual;
  • O diabetes como principal causa de cegueira em indivíduos na faixa etária de 20 a 74 anos, como causa de falência renal, diálise e transplante, como principal causa de amputação de membros, como sexta maior causa de morte devido à doença, como responsável pelo aumento em 2 a 4 vezes da taxa de doenças cardiovasculares e acidente vascular cerebral e, responsável pela diminuição em 15 anos da expectativa de vida;
  • O diabetes como a principal causa de internações em obesos;
  • O aleitamento materno exclusivo pode prevenir o aparecimento das doenças crônicas não transmissíveis;
  • O aumento da atividade física como condicionante da qualidade e da esperança de vida;
  • O disseminado uso de suplementos nutricionais de forma inadequada e sem o apoio de evidências científicas;
  • Os dados da Secretaria de Saúde de Recife, no período de 2000-2002: dos 111 surtos notificados, 76,6% foram confirmados, com maior frequência em restaurantes (51,8%) e domicilios (21,4%);
  • O direito humano de acesso a uma alimentação saudável diante de um mundo globalizado e um país marcadamente desigual;
RECOMENDA:
  • A formação acadêmica de um profissional de nutrição dinâmico, crítico e reflexivo, para atender as necessidades da população e entender o seu papel social, tornando-se um protagonista político em saúde pública;
  • A incorporação de técnicas psicoanalíticas visando maior adesão ao tratamento nas doenças crônicas não transmissíveis;
  • A participação do nutricionista apoiando os órgãos de controle social das áreas de saúde e educação;
  • A ratificação das ações de combate às carências nutricionais inseridas na Política Nacional de Alimentação e Nutrição em todos os níveis;
  • A promoção de práticas alimentares saudáveis orientando ações integradas de segurança alimentar e nutricional e incentivando o desenvolvimento de padrões alimentares diversificados desde a infância até a velhice;
  • A implementação de modelos de atenção à saúde considerando a transição nutricional pela qual passa o país;
  • A implantação de ações em educação nutricional que contemple todo o ciclo da vida entendendo que o aumento das doenças crônicas não transmissíveis não é consequencia inevitável do processo de envelhecimento;
  • A mudança do estilo de vida com ênfase na alimentação e no aumento da atividade física com acompanhamento profissional especializado;
  • A intensificação do consumo dos alimentos funcionais e o estímulo à pesquisas de alimentos regionais com potencial funcional;
  • Estimulo à ações políticas voltadas à agricultura familiar e a produção de alimentos orgânicos;
  • A valorização da gastronomia e cultura regionais através de pesquisas científicas;
  • O repensar das dimensões sociais da alimentação quanto a sustentabilidade da produção alimentar, a equidade na distribuição de alimentos, a autonomia alimentar, a estabilidade na oferta de alimentos e a suficiência de alimentos;
  • Ações governamentais no sentido de garantir a alimentação saudável e educação nutricional aos pré-escolares e escolares.
Assina esta carta todos os participantes do III Fórum Regional de Nutrição - Recife.

Comissão Científica:
Dra. Geise Belo
Dra. Josefina Bressan
Dra. Mônica Alves
Dra. Rosa Idalina Costa Jordão
Dra. Ruth Cavalcanti Guilherme
Dra. Sandra Regina Marinho de Oliveira
Dra. Sibele B. Agostini
Dra. Thais Borges Cesar