Consenso Regional
 

Carta do II Fórum Nacional de Nutrição – Região Centro-Oeste

O II Fórum Nacional de Nutrição, realizado em Brasília, nos dias 02 e 03 de junho de 2006, cujo tema central é “Definindo os Rumos da Nutrição no Brasil”,

Considerando:

  • O fenômeno da globalização e seus efeitos no cenário da transição epidemiológica e nutricional que mostra que 82% da população vive na zona urbana, 48,3% das mortes ocorrem por doenças crônicas não transmissíveis e que, segundo a POF (2002/2003), 12 a 30% da renda mensal são gastos com refeições fora do domicílio;
  • Que o país vive hoje uma problemática relacionada a dupla carga de doenças, que correspondem às doenças carenciais e às doenças crônicas não-transmissíveis;
  • A responsabilidade governamental em promover a saúde e incorporar as sugestões da Estratégia Global da Organização Mundial de Saúde;
  • A rápida evolução da Ciência da Nutrição e a importância da atualização profissional na prática da nutrição clínica;
  • Que os compostos bioativos presentes no café tem a capacidade de reduzir o risco de doenças e melhorar a qualidade de vida de consumidores regulares, além de ser fonte de magnésio, niacina e outros nutrientes;
  • O câncer é o resultado da interação entre fatores ambientais (consumo de tabaco, dieta inadequada e estilo de vida) e o genoma humano, constituindo a segunda causa de morte por doença no mundo (cerca de 4 milhões/ano), sendo os de pulmão e mama os mais incidentes, e o fato da alimentação ser o fator ambiental mais importante, responsável por aproximadamente 1/3 dos cânceres;
  • O aumento do consumo de gorduras saturadas, trans e colesterol e a desproporção entre ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 e seus efeitos sobre a integridade das funções celulares de proteção inflamatória e imunológica;
  • Os aspectos nutricionais e sensoriais, que necessitam ser resgatados como elementos essenciais para o controle de qualidade nas unidades produtoras de refeições, como estratégia de promoção da saúde;
  • Os resultados de estudos científicos em nutrição esportiva e o uso indiscriminado de suplementos nutricionais, tanto por praticantes de atividade física, atletas ou por indivíduos sedentários visando melhorar a performance e/ou aparência física, sem prescrição e orientação do profissional competente;
  • A fome oculta que, sem sintomatologia visível, interfere em várias etapas do processo metabólico, do sistema imunológico e da defesa antioxidante, comprometendo o desenvolvimento físico e mental do indivíduo, é  decorrente da inadequação qualitativa e quantitativa da dieta da população brasileira;

Recomenda:

  • A adoção dos Guias Alimentares, instrumentos oficiais do Ministério da Saúde, que definem as diretrizes alimentares para serem utilizadas na orientação de escolhas mais saudáveis de alimentos pela população brasileira em todas as faixas etárias;
  • A promoção da alimentação saudável pelo governo, pela família, por empresas privadas e pelos profissionais, com ações centradas em trabalhos complementares de estados e municípios com base nas diretrizes do Guia Alimentar considerando aspectos culturais, sociais e econômicos relacionados à alimentação;
  • A promoção de alimentação saudável nas escolas;
  • A regulamentação do marketing e publicidade de alimentos ricos em sal, açúcar e gordura;
  • Que os cursos de formação (graduação, pós-graduação e residência) devem possibilitar a instrumentalização do profissional nutricionista para que o mesmo possa buscar informações científicas consistentes e sensibilizá-lo para a importância da educação em saúde visando a prevenção de doenças crônicas não-infecciosas ;
  • Que o café seja considerado um alimento funcional por reduzir o risco de diabetes tipo 2 e outras doenças degenerativas em consumidores regulares;
  • O consumo mínimo de 400 g ou 5 porções ao dia de frutas e hortaliças e de 600g de grãos (dieta à base de alimentos de origem vegetal), o baixo consumo de alimentos gordurosos, especialmente de origem animal e gordura saturada, o consumo de menos de 80 g por dia de carne vermelha, a redução do consumo de sal e a manutenção de um plano alimentar moderado em calorias (reduzindo o consumo de açúcar e mantendo um IMC adequado) podem prevenir a incidência de câncer em até 40% e de outras doenças crônicas não-infecciosas;
  •  O consumo de óleos de sementes e grãos, como fonte de ácidos graxos ômega-6, e óleo de linhaça e peixes, como fonte de ácidos graxos ômega-3, nas proporções de 5:1 até 10:1;
  • A adoção das recomendações da FAO/OMS (2003) para gorduras, carboidratos, fibras e sal, quais sejam: gordura total entre 15-30%, ácidos graxos saturados menor que 10%, ácidos graxos poliinsaturados entre 6-10%, ácidos graxos omega-6 entre 5-8%, ácidos graxos omega-3 entre 1-2%, ácidos graxos trans menor que 1%, ácidos graxos monoinsaturados maior que 20%, colesterol menor que 300 mg/dia, carboidratos 55-75%, açúcar menor que 10%, fibras maior que 25 g/dia, cloreto de sódio menor que 5g/dia e sódio menor que 2g/dia;
  • A alimentação equilibrada e variada incluindo, diariamente, alimentos de todos os grupos na proporção correta para a garantia de fornecimento adequado de nutrientes e de substâncias com propriedades funcionais;
  • Ampliar a noção de qualidade nas unidades produtoras de refeições, criando estratégias e técnicas que visem à adoção de uma alimentação saudável, preservando os aspectos sensoriais e associando-os aos culturais, sociais e emocionais;
  • A atuação competente e ética do nutricionista na área de nutrição esportiva mediante ações em educação, avaliação e orientação no sentido da adoção de uma dieta balanceada, assim como a valorização pelo profissional da pesquisa dos dados científicos disponíveis na literatura e o estudo do uso de suplementos nutricionais em situações específicas visando a melhora do desempenho esportivo e a promoção da saúde;
  • O enfoque preventivo nas ações de nutrição, desde a infância, no sentido de evitar o desenvolvimento de doenças crônicas não-transmissíveis;
  • Uma maior articulação de múltiplos setores, incluindo o governo, a comunidade científica, a indústria, a mídia e a sociedade civil organizada, para o sucesso de estratégias e programas que visem combater as deficiências nutricionais, de forma a subsidiar e otimizar recursos e ações no contexto de um programa de âmbito nacional.

 

Assinam esta carta todos os participantes do II Fórum Nacional de Nutrição – Região Centro-Oeste.

 

COMISSÃO CIENTÍFICA:
Prof. Dra Andrea Ramalho (UFRJ/RJ)
Dra Cynthia Antonnaccio (Equilibrium/SP)
Dra Erika Reinehr Ribeiro (Clinica Salute/DF)
Dra Maria Hélida Guedes Logrado(HRAN/SES/GDF)
Dra Narayana Reinehr Ribeiro (Clinica Salute/DF)
Prof. Dra Maria Margareth Veloso Naves (UFG/GO)
Pof. Dra Maria S. Silva (UFG/GO)
Dra. Michele Lessa de Oliveira (Ministério da Saúde/DF)
Prof. Dra Rossana Pacheco da Costa Proença (UFSC/SC)
Dra Patricia Pires Queiroz (SES/DF)
Dra. Sibele B. Agostini (Nutrição em Pauta/SP)
Prof. Dra Teresa Helena Macedo da Costa (UnB/DF)