Consenso Regional
 
Carta do II Fórum Nacional de Nutrição – Região Rio de Janeiro

O II Fórum Nacional de Nutrição, realizado no Rio de Janeiro, nos dias 07 e 08 de abril de 2006, cujo tema central é “Definindo os Rumos da Nutrição no Brasil”,

Considerando:
· O fenômeno da globalização e seus efeitos no cenário da transição epidemiológica e nutricional que mostra que 82% da população vivem na zona urbana, 48,3% das mortes ocorrem por doenças crônicas não transmissíveis e que, segundo a POF (2003) 12 a 30% da renda mensal são gastos com refeições fora do domicílio;
· A responsabilidade governamental em promover a saúde e incorporar as sugestões da Estratégia Global da Organização Mundial de Saúde;
· Que a obesidade que atinge 11% da população brasileira, com maior prevalência no sexo feminino, de menor renda e responsável por 80 a 100 mil mortes por ano, pode ser resultado da interação nutrição, estilo de vida e genoma humano;
· As comorbidades da obesidade (diabetes mellitus, dislipidemias, etc) que possuem forte impacto social e econômico na área de saúde e da produtividade individual;
· O impacto das imunodeficiências sobre o estado nutricional, em especial sobre a desnutrição energético-protéica, sobre o estado carêncial de vitaminas A, E e D e minerais como ferro, zinco e selênio;
· O diabetes como principal causa de cegueira em indivíduos na faixa etária de 20 a 74 anos, como causa de falência renal, diálise e transplante, como principal causa de amputação de membros, como sexta maior causa de morte devido a doença, como responsável pelo aumento em 2 a 4 vezes da taxa de doenças cardiovasculares e acidente vascular cerebral e, responsável pela diminuição em 15 anos a expectativa de vida;
· O aumento do consumo de gorduras saturadas, trans e colesterol e a desproporção entre ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 e seus efeitos sobre a integridade das funções celulares de proteção inflamatória e imunológica;
· Os efeitos metabólicos e/ou fisiológicos que os alimentos funcionais como, por exemplo, fitoquímicos, ômega-3, probióticos e prebióticos, provocam na saúde humana;
· Os aspectos nutricionais e sensoriais na qualidade das refeições;
· A carência de informações científicas e da atuação profissional do nutricionista em relação a prática da atividade física por portadores de deficiências físicas;
· A nutrição esportiva como uma ciência bastante recente, os resultados dos seus estudos científicos, na sua grande maioria, ainda serem controversos e o crescente consumo de recursos ergogênicos nutricionais pelos praticantes de exercícios físicos, atletas e até mesmo sedentários;
· O aumento da atividade física como condicionante da qualidade e da esperança de vida;
· A fome oculta que, sem sintomatologia visível, interfere em várias etapas do processo metabólico, do sistema imunológico e da defesa antioxidante, comprometendo o desenvolvimento físico e mental do indivíduo decorrente da inadequação qualitativa e quantitativa da dieta da população brasileira;
· O direito humano de acesso a uma alimentação saudável diante de um mundo globalizado e um país marcadamente desigual;
· A existência do sistema de vigilância alimentar e nutricional (SISVAN) como um sistema que informa as tendências das condições de alimentação e nutrição da população e seus fatores determinantes com fins de planejamento e avaliação dos efeitos de políticas, programas e intervenções;

Recomenda:
· A adoção do Guia Alimentar, instrumento oficial da Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, que define as diretrizes alimentares para serem utilizadas na orientação de escolhas mais saudáveis de alimentos pela população brasileira a partir de 2 anos de idade;
· A promoção da alimentação saudável pelo governo, pela família, por empresas privadas e por profissionais, com ações centradas em trabalhos complementares de estados e municípios com base nas diretrizes do Guia Alimentar;
· Que a atuação do nutricionista objetive a prevenção de estados carênciais oriundos do quadro de imunodeficiências, atentando para a utilização de prebióticos, probióticos e simbióticos na manutenção da homeostasia da mucosa intestinal;
· A contagem de carboidratos, como estratégia nutricional, para o controle metabólico de indivíduos portadores de diabetes mellitus;
· A intensificação dos estudos quanto à utilização dos alimentos funcionais considerando as interações nutrição, dieta e genes;
· O enfoque preventivo nas ações de nutrição, desde a infância, no sentido de evitar o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis;
· O consumo de óleos de sementes e grãos, como fonte de ácidos graxos ômega-6, e óleo de linhaça e peixes, como fonte de ácidos graxos ômega-3, nas proporções de 5:1 até 10:1;
· A adoção das recomendações da FAO/OMS (2003) quais sejam: gordura total entre 15-30%, ácidos graxos saturados menor que 10%, ácidos graxos poliinsaturados entre 6-10%, ácidos graxos omega-6 entre 5-8%, ácidos graxos omega-3 entre 1-2%, ácidos graxos trans menor que 1%, ácidos graxos monoinsaturados maior que 20%, carboidratos entre 55-75%, fibras maior que 25 g/dia, açúcar menor que 10%, proteína entre 10 a 15%, colesterol menor que 300 mg/dia, cloreto de sódio menor que 5g/dia e sódio menor que 2g/dia, frutas e hortaliças maior que 400 g/dia e calorias totais suficientes para alcançar um balanço energético e manter o peso corporal desejável;
· A alimentação equilibrada e variada incluindo, diariamente, alimentos de todos os grupos na proporção correta para a garantia de fornecimento dos alimentos com propriedades funcionais;
· Aumentar a abrangência da noção de “saudável” para além dos alimentos em si, valorizando os aspectos culturais e sociais;
· A atuação do nutricionista tanto na pesquisa científica como na orientação nutricional para os portadores de deficiência física praticantes de atividade física e atletas;
· A atuação do nutricionista em academias, clubes e centros desportivos, para a promoção de ações educacionais, e em laboratórios de pesquisa, para a realização de estudos científicos que garantam o uso adequado dos suplementos, quando necessário, que visem o melhor desempenho esportivo;
· A ampliação da vigilância nutricional a outros grupos vulneráveis, como gestantes, adultos, adolescentes, subsidiando ações mais efetivas para prevenção e controle dos agravos, assim como promoção de saúde;
· Uma maior articulação de múltiplos setores, incluindo o governo, a comunidade científica, a indústria, a mídia e a sociedade civil organizada, para o sucesso de estratégias e programas que visem combater as deficiências nutricionais, de forma a subsidiar e otimizar recursos e ações no contexto de um programa de âmbito nacional.

Assina esta carta todos os participantes do II Fórum Nacional de Nutrição – Região Rio de janeiro.

COMISSÃO CIENTÍFICA:
Prof. Dra. Adriana Baddini Feitoza (UFRJ/RJ)
Prof. Dra. Ainá Innocencio da Silva Gomes (FMIT/MG)
Prof. Dra. Andréa Ramalho (UFRJ/RJ)
Prof. Dra. Avany Fernandes Pereira (UFRJ/RJ)
Dra. Elyne Montenegro Engstrom (Fiocruz/SMS/RJ)
Prof. Dra. Josefina Bressan (UFV/MG)
Prof. Dra. Monique Pedruzzi (UVA/RJ)
Prof. Dra. Rossana Pacheco da Costa Proença (UFSC/SC)
Dra. Sibele B. Agostini (Nutrição em Pauta/SP)