5º Fórum de Nutrição 2009 - Belém do Pará
Nutrição e Saúde Pública
GARCIA, G.; SANTOS, N.
Serviço Social do Comércio - SESC, Belém/Brasil
Autor para apresentação: GLEICE GARCIA.
Ao longo de décadas a desigualdade tem sido foco das diretrizes e políticas públicas no mundo inteiro. A preocupação com os aspectos relacionados à qualidade de vida tornou-se tema central de discussões mundiais e tomou frente na forma de acordos multilaterais envolvendo nações desenvolvidas e subdesenvolvidas. O Brasil é o quarto produtor mundial de alimentos e o sexto em subnutrição. Este grande paradoxo está relacionado a questões políticas, econômicas, ideológicas e comportamentais. O Mapa de Exclusão Social do Pará de 2008 divulgado pelo IBGE/SEPOF, tendo como um dos indicadores o número de pessoas abaixo da linha da pobreza, renda domiciliar mensal inferior a ½ salário mínimo per capita, apontou os seguintes resultados: Brasil: 62.439.618 e 59.558.170; Região Norte: 7.071.639 e 7.048.097; Pará: 3.470.492 e 3.392.670; Região Metropolitana de Belém: 817.792 e 704.703, dados do ano de 2006 e 2007, respectivamente para cada localidade. Apesar de ter havido um decréscimo no número de pessoas abaixo da linha da pobreza a nível Nacional, Regional, Estadual e na Região Metropolitana de Belém, ainda é elevado o número de pessoas que vivem abaixo do “padrão de vida mínimo” no que diz respeito a vários aspectos como: nutricionais, de moradia ou acesso a serviços básicos. Frente a essa realidade de alto grau de desigualdade e má distribuição de renda o Mesa Brasil SESC (MBS) configura um Programa de combate à fome e ao desperdício de alimentos. Baseado na segurança alimentar e nutricional sustentável. Redistribui alimentos excedentes próprios para o consumo e sem valor comercial, complementando e reforçando a refeição, somando valor nutricional à mesa do brasileiro. Assim, realizou-se um estudo epidemiológico populacional de base transversal, constituído de levantamento da ficha escolar do aluno para obtenção da data de nascimento e aferição de dados antropométricos de 1.988 crianças, sendo 1.322 do município de Belém e 666 do município de Ananindeua, de 0 a 10 anos atendidas em instituições sociais beneficiadas pelo Programa MBS, no período de abril a junho de 2008, com o objetivo de traçar o perfil nutricional desses pacientes e fazer uma comparação entre os municípios. Utilizou-se formulário de coleta de dados contendo: Nome da instituição social; da criança; Data de nascimento; da coleta; Sexo e Dados Antropométricos (peso e estatura). O peso foi verificado seguindo padronização do Programa Biológico Internacional em balança médica calibrada (Filizola), com precisão até 100g, com as crianças descalças, usando o mínimo possível de roupas, não estando apoiadas na parede, nem segurando a mãe ou o profissional. Antes de cada seção de coleta de dados a balança foi calibrada. Para a medição da estatura foi feita à aferição com estadiômetro fixo na balança que mede até 190 centímetros e graduado com precisão de 0,5 centímetros ou fita inelástica com precisão até décimos do centímetro fixada em superfície plana com a criança em apnéia respiratória, em posição ortostática, com os pés juntos, as mãos nos quadris e com a cabeça mantida no plano de Frankfurt. A análise estatística foi realizada por intermédio do Software Epi Info, versão 6.04 d. Dentre as crianças avaliadas no município de Belém 51,9 e 48,1% e no município de Ananindeua 52,2 e 47,8% de indivíduos do sexo masculino e feminino, respectivamente. Em relação ao sexo feminino, percebe-se que há uma maior prevalência de crianças na faixa-etária entre 3 a 6 anos em ambos os municípios (Belém = 61,2% e Ananindeua = 54,7%). Posteriormente a faixa-etária em destaque são as crianças com idade entre 6 a 10 anos (Belém = 31,3% e Ananindeua = 30,5%). A leitura projeta-se da mesma forma para o sexo masculino. Ao analisar as crianças através do indicador peso para a estatura (P/E), observa-se que das 1.322 crianças de Belém 85,6% estão eutróficas, 12,0% têm desnutrição em graus variados e 2,3% estão com sobrepeso/obesidade. Enquanto que entre as 666 crianças de Ananindeua o percentual de eutrofia é de 82,6%, de desnutrição é de 15,0% e de sobrepeso/obesidade é 2,0%. Havendo diferença estatisticamente significante entre os municípios (p = 0,0367). Analisando o indicador estatura para a idade (E/I), verifica-se que das 1.322 crianças de Belém 53,9% estão com estatura normal, 45,5% têm baixa estatura (permeando de leve a grave) e 0,6% estão com alta estatura. Enquanto que entre as crianças de Ananindeua o percentual de normalidade é de 44,6%, de baixa estatura é 55,1% e alta estatura é de 0,3%. Havendo, portanto, diferença estatisticamente significante entre os municípios quanto ao indicador E/I (p < 0,0001). De acordo com os resultados obtidos, pode-se inferir a partir da análise do indicador P/E que o percentual de desnutrição é mais acentuado em Ananindeua, enquanto que o estado nutricional de eutrofia e sobrepeso/obesidade no município de Belém e analisando E/I, apesar da grande maioria das crianças apresentarem estatura normal para a idade, uma significativa parcela delas estão com déficit estatural, indicando, portanto, severa escassez de alimentos quando mais jovem, provocando dessa forma o seu crescimento de maneira inadequada, é o que chamamos de desnutrição pregressa. De maneira geral, percebe-se uma melhoria no quadro nutricional de nossas crianças, no entanto, medidas urgentes e pertinentes são necessárias a fim de amenizar estes problemas ainda na infância.
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