Colesterol alto pode aumentar o risco de câncer
 
Apesar de haver estudos controversos sobre o tema, o colesterol favorece o crescimento e a proliferação das células cancerígenas; diminuir o consumo de álcool e fazer atividades físicas são iniciativas importantes que devem ser relembradas junto a celebração do Dia Nacional de Combate ao Colesterol, em 8 de agosto.

O colesterol, molécula de gordura que em excesso acumula-se nas artérias e contribui para infartos e derrames, mostra mais uma de suas facetas: associado a obesidade, existe a possibilidade do colesterol desencadear alterações celulares que podem levar ao desenvolvimento de câncer. Apesar de haver estudos controversos sobre o tema, ao ser degradado no organismo o colesterol gera metabólitos que atuam como promotores tumorais facilitando o surgimento do câncer. Estudos da Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC), demonstram que o consumo exagerado de carnes vermelhas e processadas pode aumentar o risco do desenvolvimento de câncer. Além disso, o consumo de alimentos com alto teor de gorduras e colesterol levam à obesidade e sobrepeso, que juntos são responsáveis por aproximadamente 20% de todos os casos de câncer.

Pesquisas recentes realizadas na Escola de Medicina David Geffen da Universidade da California Los Angeles - UCLA, ajudam a explicar a ligação entre uma dieta rica em colesterol e aumento do risco de câncer colorretal. Uma enzima chave, Lpcat3, regula o equilíbrio entre os dois principais componentes da membrana plasmática: os fosfolipídios e o colesterol, influenciando na velocidade com que as células tronco intestinais se dividem e se multiplicam. Essas células tronco progrenitoras são importantes para o funcionamento normal do intestino”, porém quando se multiplicam rapidamente, de forma descontrolada, são as principais causadoras do câncer colorretal. Os pesquisadores descobriam que, na deficiência de Lpcat3, ocorre uma produção aumentada de colesterol, que age como um indutor tumoral.

Na prática, a pesquisa envolveu diversos experimentos, dentre eles: um grupo de camundongos foi alimentado com uma dieta contendo alto teor de colesterol, que fez com suas células-tronco intestinais se dividissem e se multiplicassem muito mais rapidamente. Em outro grupo, através de alterações genéticas instituídas, animais com câncer intestinal foram expostos a concentrações altas de colesterol, o que levou a uma rápida expansão do revestimento dos tecidos, aumentando a taxa de crescimento dos tumores e a agressividade da doença.

Além de relacionado ao câncer de intestino, o colesterol alto também pode ser fator de risco para outros cânceres como o de mama e está relacionado ao maior risco de recidiva em pacientes diagnosticados com câncer de próstata.  

O colesterol alto pode ser o combustível que faz com que o câncer de mama cresça e se dissemine pelo corpo. Isso porque o colesterol é precursor de hormônios esteroides (como estrogênios e androgênios), envolvidos no crescimento de tumores mamários. Estudos recentes conduzidos no Centro Médico da Universidade de Duke - Estados Unidos, demonstraram que o metabólito do colesterol 27-hidroxicolesterol (27HC) estimula o crescimento do tumor ligando-se ao receptor de estrogênio e, portanto, produzindo os mesmos efeitos em modelos experimentais de câncer de mama em ratos e camundongos.

A relevância clínica desses achados pode ser reforçada pela descoberta de que amostras de tumores de pacientes com câncer de mama apresentam maior conteúdo de 27HC em relação a mulheres saudáveis. Isso mostra que há uma desregulação da produção de 27HC durante a carcinogênese em direção a uma maior produção do metabólito.

Um estudo multicêntrico, parte do Women's Health Initiative (WHI), com mulheres na pós menopausa, sugere que o uso de estatinas, medicamentos que reduzem os níveis de colesterol plasmático, possam reduzir em até 22% a mortalidade por câncer de mama. Novas pesquisas precisam ser realizadas para esclarecer os principais mecanismos envolvidos nesse processo.

Diante de todas as pesquisas, as melhores maneiras de reduzir o risco de desenvolvimento do câncer ainda são manter uma dieta saudável, rica em fibras, com maior quantidade de frutas, legumes, verduras e oleaginosas, substituir os carboidratos simples (presentes no arroz branco e farinha) por alimentos integrais, além de restringir o consumo de gorduras animais encontradas, por exemplo, na carne vermelha. Além da dieta, diminuir o consumo de álcool e fazer atividades físicas também são iniciativas importantes que devem ser relembradas junto a celebração do Dia Nacional de Combate ao Colesterol, em 8 de agosto.


Fonte

Dra. Daniela Brandão -  Médica oncologista da Oncomed