A anemia falciforme é uma doença hematológica de caráter genético de grande prevalência no Brasil. Apesar do comprometimento nutricional ser comum nas crianças falcêmicas, há poucos estudos nacionais que descrevem o estado nutricional das mesmas.
O objetivo deste trabalho foi avaliar o estado nutricional antropométrico de crianças com anemia falciforme internadas na enfermaria de pediatria do HUPE/UERJ.
Foram obtidos os seguintes dados idade, em meses; peso, em quilogramas, obtido em balança mecânica Filizola e estatura, em centímetros, obtida por meio de estadiômetro fixado na parede. A partir do peso e da estatura de cada criança foram calculados o índice de massa corporal (kg/m2) e os escores- z dos indicadores Peso/Idade e Estatura/Idade.
Foram avaliadas 24 crianças com mediana de idade de 91,5 meses (67,5 – 128,5 meses), sendo 20 meninos (83,3%) e 4 meninas (16,7%). As co-morbidades apresentadas foram agrupadas em cinco itens: febre (n= 13); quadro álgico, englobando dor abdominal, dor torácica, dor articular e crise álgica, (n= 13); pneumonia (n= 7); hepatomegalia (n= 1) e colelitíase (n= 1), havendo uma ou mais co-morbidades numa mesma criança. A mediana do índice de massa corporal foi de 14,79 (13,81 – 17,13 kg/m2) e a classificação percentilar foi agrupada em quatro faixas: < percentil 5 (n= 7); £ percentil 50 (n= 9); ³ percentil 50 (n= 5) e > percentil 95 (n= 2). As medianas dos escores z para Peso/Idade e Estatura/Idade foram –0,89 (–1,63 a 0,105) e –0,55 (–1,62 a 0,29), respectivamente.
Analisando as crianças de acordo com o indicador P/I, considerando os escores- z abaixo de –1,0 como desnutrição atual (n=12) e acima de –1,0 como eutrofia (n=12), não foi verificada diferença significante para idade (p=0,127), apesar de se observar uma tendência estatística para a desnutrição atual nas crianças com idades maiores. Houve diferença significante no indicador IMC (p=0,006). Ao subdividir a amostra pelo indicador E/I classificou-se as crianças com desnutrição crônica (n=9) e eutrofia (n=15) e verificou-se que não houve diferença significante para idade (p=0,568) e IMC (p=0,237).
Nas crianças estudadas verificou-se um elevado percentual de desnutrição atual e crônica, refletindo a necessidade de acompanhamento nutricional criterioso neste grupo.
A anemia falciforme é uma doença de caráter genético que agrupa um conjunto de genótipos diferentes caracterizados pela concentração de hemoglobina S (Hb S) acima de 50% nos eritrócitos (Naoum, 2000). É uma das alterações genéticas mais comuns em todo o mundo (Dias e Faraco, 2005), que acomete com maior freqüência, mas não exclusiva, indivíduos de origem africana. Esta doença resulta da mutação no cromossomo 11 decorrente da substituição de um ácido glutâmico pela valina, na posição 6 da extremidade N-terminal na cadeia β da globina, dando origem à hemoglobina S. Os eritrócitos com maior quantidade de hemoglobina S assumem, em condições de hipóxia, forma de foice (Di Nuzzo e Fonseca, 2004).
O crescimento prejudicado, déficit no estado nutricional e prejuízo na maturação esquelética e sexual são comuns nas crianças com anemia falciforme e decorrem do déficit de energia resultante do rápido turnover dos eritrócitos (Silva e Viana, 2002) e do aumento da taxa de metabolismo basal (Singhal et al, 2002). Apesar do comprometimento nutricional ser comum nas crianças falcêmicas, há poucos estudos nacionais que descrevem o estado nutricional das mesmas. Com o objetivo de contribuir para o maior conhecimento nesta área foi desenvolvido este trabalho que visa avaliar o estado nutricional antropométrico de crianças com anemia falciforme internada na enfermaria de pediatria do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (HUPE/UERJ). |