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Obesidade: Determinantes Genéticos, Ambientais e Clínicos (9th International Congress on Obesity)

A Genética da Obesidade Humana - Prof. Dr. Louís Pérusse

De acordo com um recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade atingiu proporções epidêmicas em todo o mundo. Hoje a obesidade é tão comum (aproximadamente 250 milhões de obesos e 500 milhões de pessoas com sobrepeso no mundo) que está começando a substituir a subnutrição e as doenças infecciosas como a doença que mais provoca danos à saúde, podendo causar conseqüências graves.

A obesidade é associada a algumas das doenças de alta prevalência nas sociedades modernas, como o diabetes do tipo 2, a hipertensão, as doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer (mama, útero, próstata e cólon). Devido a esse impacto na saúde das populações, a genética da obesidade tem recebido atenção considerável, principalmente após a descoberta do gene da leptina, responsável pela obesidade no camundongo. Hoje sabe-se que a obesidade tem componentes genéticos. Estima-se que a prevalência da obesidade (IMC > 30) seja aproximadamente duas vezes maior em famílias de obesos que na população em geral. Além disso, o risco familiar de se desenvolver a obesidade tende a aumentar com a gravidade dessa doença.

Assim, o risco de se desenvolver a obesidade mórbida (IMC > 45) é aproximadamente oito vezes maior nas famílias de indivíduos muito obesos. Hoje há provas de que o risco familiar é determinado, em parte, por fatores genéticos. Apesar de as estimativas de hereditariedade variarem de um grupo populacional para outro, aproximadamente 30% a 50 % das variações nas diversas medições para determinação da obesidade poderiam ser atribuídas a fatores genéticos. Houve um progresso razoável na pesquisa de genes responsáveis pela obesidade. As atualizações anuais do mapa genético da obesidade, publicado desde 1996, oferecem uma boa indicação do progresso realizado nos últimos 15 anos nessa área. Estudos de biologia molecular mostram fortes evidências de que os genes poderiam estar envolvidos na determinação da obesidade humana .

Esses estudos identificaram casos de obesidade humana devido a deficiências em determinados genes. Até o momento, há 78 casos de obesidade devido a mutações em um dos sete genes identificados. A maioria desses casos foi observada em indivíduos com obesidade grave, com instalação da obesidade quando ainda jovens.

Determinantes Ambientais da Obesidade: Condições Socioeconômicas, Educação e Riqueza - Prof. Dr. John P. Foreyt

Nos Estados Unidos, dispomos de dados que apontam que toda a população será obesa até o ano 2230 (Foreyt et al, 1995) . A obesidade está associada a riscos aumentados de morbidade e mortalidade, além de aumentos significativos nos custos dos serviços de saúde para tratar das comorbidades, principalmente o diabetes tipo 2 e a hipertensão. A etiologia da obesidade é sem dúvida multifatorial, apesar de parecer que as forças ambientais sejam os principais determinantes dessa condição. Este trabalho revisa o papel do nível socioeconômico, da educação e da riqueza como determinantes do peso corporal. Apenas recentemente a obesidade tornou-se uma importante questão de saúde.

Trata-se ainda de um problema relativamente raro em sociedades não industrializadas, apesar de parecer que esse panorama está mudando rapidamente com a adoção de estilos de vida ocidentais por essas sociedades. A obesidade é praticamente inexistente nas sociedades cuja economia é a de subsistência (caça/extrativismo). Apesar de a obesidade estar aumentando significativamente em muitas sociedades, os motivos para esse aumento nem sempre são evidentes. O pool de genes humanos não sofreu quaisquer mudanças reais nos últimos 35.000 anos, apesar de o meio ambiente ter sofrido mudanças acentuadas(Eaton, 1988). A obesidade é causada, principalmente, pela incompatibilidade entre nosso estilo de vida e nossos genes.

O estilo de vida ocidental é altamente associado a doenças crônicas e degenerativas (Popkin, 1998) enquanto o das sociedades que ainda se baseiam na subsistência sugere que em um passado distante éramos muito mais ativos e que a densidade energética da dieta era muito menor; a dieta era mais rica em fibras e mais hipogordurosa e hipocalórica que a atual.

É interessante observar que os mesmos genes que ajudaram nossos ancestrais a sobreviver representam hoje um sério risco em um mundo abundante em alimentos e no qual há pouca necessidade de sermos fisicamente ativos. Hoje, os principais fatores responsáveis pela obesidade encontram-se no nosso meio ambiente, que promove o desenvolvimento dessa condição por meio do excesso da ingestão de alimentos e da redução da atividade física. O nível socioeconômico, a educação e a riqueza desempenham papéis importantes no desenvolvimento da obesidade.

Prevalência da Obesidade e Facilidade de Acesso à Fast-Foods - Prof. Dr. Walker S. Carlos Poston II

Estudos documentam um relação consistente entre a obesidade e o nível socioeconômico/empobrecimento de uma determinada área. Estudamos a relação existente entre a prevalência da obesidade e o número de restaurantes fast-food, lojas de conveniência e bares em duas áreas de recenseamento da cidade de Kansas.

Essas variáveis foram escolhidas porque são as que apresentam maior probabilidade de oferecer alimentos com alto teor de gordura e alta densidade calórica total. As áreas foram selecionadas de acordo com a média da renda (alta ou baixa), conforme classificação do U.S. Census, e depois padronizadas para densidade populacional. Realizou-se uma pesquisa via telefone sobre as condições de saúde do grupo populacional das áreas selecionadas. A entrevista telefônica incluía diversos aspectos, tais como: condições atuais de saúde e a cobertura dos planos de saúde, qualidade de vida, ingestão alimentar, dados demográficos, história de tabagismo, características da vizinhança, consumo de bebidas alcoólicas, atividade física e características familiares. Todos os itens do questionário baseavam-se em medições anteriormente validadas como o BRFSS - Behavioral Risk Factor Surveillance Survey (Pesquisa de Vigilância de Fatores Comportamentais de Risco).

Equipes comunitárias pesquisaram um raio de 1,2 km ao redor das áreas selecionadas e determinaram a quantidade de restaurantes fast-food, lojas de conveniência e bares. As pesquisas para instituições e residências (Densidade das Instituições Sociais ? DSI e a Pesquisa de Condições de Moradia do Bairro ? NHCS) são padronizadas com categorias operacionalmente definidas.

Obesidade: França, Estados Unidos e Sertão do Brasil - Prof. Dr. Geraldo Medeiros-Neto

É comum afirmar-se, no Brasil, que a subnutrição é um problema mais grave do que a obesidade. Não é, se considerarmos que ambos são extremamente maléficos, em conseqüências, para o organismo humano. Em maio e junho de 2000 pesquisadores da Universidade de São Paulo percorreram 12 mil quilômetros, pelo Brasil Central, entre Belém e o Rio de Janeiro, com o objetivo de detectar eventuais distúrbios de tireóide. E chegaram a uma importante conclusão paralela: o número de crianças subnutridas ou desnutridas caiu para menos de 2%. Essa parcela não era formada por vítimas da fome propriamente dita mas sim por vítimas de maus tratos em casa ou doenças como a verminose, bronquite asmática, diarréia crônica, etc.

Para contrariar ainda mais as idéias pré-concebidas sobre a desnutrição dos brasileiros, 19% das crianças examinadas já mostravam excesso de peso e 11% eram obesas. Se, de fato, na última década, o brasileiro teve mais acesso aos alimentos, isso não significa que essas crianças comiam demais levadas pela gula.

Significa, sim, que herdaram uma tendência mais acentuada para armazenar gorduras. Neste aspecto, portanto, as crianças da zona rural do Brasil Central se comportam exatamente como as das grandes capitais. A França, o verdadeiro paraíso da gastronomia, mas, à primeira vista, o lugar menos indicado para quem deseja uma alimentação saudável: usa-se gordura de ganso para frituras; a manteiga está presente desde a baguete matinal até os queijos gordos depois do jantar e há ainda muito creme de leite, muitos frios e patês, além de uma infinidade de molhos. No entanto a taxa de obesidade na França é uma das menores da Europa e a incidência de infartos está na faixa de 40 infartos por 100 mil habitantes. No Estados Unidos, essa incidência é de 400 infartos.

Dietas: Problema ou Solução para a Obesidade? - Prof. Dr. Alfredo Halpern

Todas as dietas que entram na moda, baseadas em ingestão de apenas carboidratos, gorduras ou líquidos não resolvem o problema de quem está acima do peso. Quem se apegar a uma dieta desse tipo vai realmente emagrecer a curto prazo, mas por pouco tempo.

Como se sabe, essas dietas não podem ser mantidas por muito tempo, já que excluem grupos inteiros de alimentos, prejudicando a saúde do indivíduo. Depois de perder o peso, o que acontece? Volta-se aos mesmos hábitos anteriores. Com o adicional de que o peso de antes da dieta não será o mesmo, mas ainda maior do que antes. Mulheres que resolvem, por exemplo, emagrecer para o fim de semana e passam 24 ou 48 horas sem comer absolutamente nada, tomando chás ou sopas, perdem alguns quilos e, na semana seguinte, os recuperam e ainda ganham alguns a mais.

Porque o organismo privado de alimentos repentinamente interpreta isso da seguinte maneira: poderão acontecer novas privações e, portanto, vou armazenar mais gordura para poder fazer frente a essas privações sem correr riscos para a saúde.

É uma armadilha. Outra armadilha são os remédios milagrosos tão veiculados em anúncios. Ou as fórmulas receitadas por médicos que só pensam no resultado imediato e aumento de consultas em seu estabelecimento. Tudo isso pode levar a uma redução de peso a curto prazo, mas a pessoa voltará a engordar e ainda corre sérios riscos para a sua saúde.

Autores

Prof. Dr. Alfredo Halpern Endocrinologista, formado em Medicina pela USP, é professor livre-docente de Endocrinologia na USP e Chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas. Foi fundador e 2 vezes presidente da ABESO – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade
Prof. Dr. Geraldo Medeiros-Neto Doutor e Livre-Docente em Endocrinologia pela FMUSP, Pós-doutorado na Harvard Medical School, Mass General Hospital, Professor Associado da Disciplina de Endocrinologia da USP e Chefe da Unidade de Tireóide e Laboratório de Tireóide do Hospital das Clínicas
Prof. Dr. John P. Foreyt Ph.D. Professor do Departamento de Medicina do Baylor College of Medicine, Houston, Texas e Diretor do Behavioral Medicine Research Clinic em Baylor
Prof. Dr. Louís Pérusse Ph.D. Professor Adjunto, Division de Kinésiologie, Dept. Médecine Sociale et Préventive, PEPS - Université Laval, Ste-Foy, Québec, Canada
Prof. Dr. Walker S. Carlos Poston II M.P.H. Ph.D. Professor Assistente de Psicologia na University of Missouri, Kansas City e Co-Diretor do Behavioral Cardiology, Mid America Heart Institute, St. Luke’s Hospital, Kansas City

Os autores estão em ordem alfabética

Este artigo é um resumo. O artigo em sua íntegra pode ser encontrado na revista Nutrição em Pauta, edição Set/Out/2002