A revisão da literatura mostra que os aspectos econômicos envolvidos no custo da desnutrição enfatizados referem-se à manutenção de um trabalho na equipe de suporte nutricional, ao uso da terapia nutricional em programas domiciliares (home care) e ao uso da terapia nutricional como uma ação profilática contra complicações cirúrgicas.
A desnutrição hospitalar representa um ônus financeiro para o sistema por ser responsável por um índice mais alto de complicações cirúrgicas, mortalidade e períodos de internação mais longos. O investimento na terapia nutricional oferece retornos econômicos.
O custo da criação e manutenção da equipe de suporte nutricional é facilmente compensado pelos recursos gerados pela equipe em si. A terapia nutricional domiciliar é altamente vantajosa. Nos ensaios brasileiros, o tratamento de grupos de pacientes cirúrgicos recebendo terapia nutricional com o modelo de integração hospital-domicílio resultou em um custo 2,6 vezes menor que o do grupo convencional (tratamento exclusivamente intra-hospitalar). A adoção da terapia nutricional imunomodulatória no pré-operatório em pacientes que iriam ser submetidos à cirurgia eletiva como uma medida profilática contra complicações cirúrgicas no pós-operatório apresentaram uma redução de 2,24 vezes no custo total do tratamento.
A busca por um modelo ideal de terapia nutricional é baseada no binômio de qualidade e custo. A prescrição da terapia nutricional tem um impacto favorável nos aspectos financeiros e gerador de recursos da instituição, quando praticada por grupos treinados de maneira adequada.
As terapias de nutrição enteral (NE) e parenteral (NP) compreendem um conjunto de procedimentos terapêuticos (Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2000). O uso dessas terapias implica necessariamente na seleção, preparo e administração de fórmulas enterais e parenterais em um ambiente especialmente desenvolvido para esse objetivo. Também pressupõe a disponibilidade de profissionais da saúde adequadamente treinados e qualificados para prescrever e participar de um trabalho multidisciplinar (Lei de Responsabilidade Fiscal, 2000).
A prática dessas terapias é considerada altamente complexa de ser realizada em programas de saúde que exigem sua implementação em unidades hospitalares, com recursos específicos gastos em espaço físico, equipamentos, materiais, matéria-prima e recursos humanos com capacitação de nível médio a superior, de acordo com as regulamentações específicas de cada unidade. Além disso, as despesas envolvidas em controle de qualidade e possíveis complicações tais como aquelas relacionadas à contaminação de fórmulas enterais e parenterais (Silva, 1995)
Assim como em outras áreas da saúde, questiona-se se a validade de se utilizar recursos financeiros públicos e privados na intervenção nutricional em termos de tipo, tempo, custos e resultados. É válido oferecer tratamento nutricional para um paciente hospitalizado? Por quanto tempo, por qual método, quanto investir e a que custo? (Howard et al, 1995).
É possível que em alguns casos, o custo da terapia nutricional enteral e parenteral exceda os benefícios clínicos (Koretz, 1986). Por outro lado, com grande progresso na tecnologia domiciliar, estudam-se programas de saúde que possibilitariam o tratamento de pacientes fora do ambiente hospitalar, sem diminuir os padrões de alta qualidade oferecidos, mas alcançando a redução no período de internação com conseqüente redução no custo global (Koretz, 1986; Bisset et al, 1992).
Com relação à utilização dos recursos humanos, a terapia nutricional (TN) oferece vantagens. Se a TN for bem indicada e aplicada por especialistas, observam-se melhoras nos indicadores nutricionais, com conseqüente redução nas taxas de mortalidade e morbidade, o que sugere uma relação custo-benefício favorável (Wateska et al, 1980;Studley, 1936; (Waitzberg & Correia, 2003).
O cuidado nutricional de um paciente é parte integral do bom tratamento clínico e tem custo- benefício positivo. A alternativa não é tratar a desnutrição hospitalar. Entretanto, essa opção também envolve custos. Em pacientes adultos hospitalizados nos EUA, observou-se que os custos adicionais resultantes da desnutrição representavam US$ 5.575,00 para um paciente cirúrgico e US$ 2.477,00 para o paciente clínico (Laramee, 1996). No Brasil, observou-se uma relação direta entre a hospitalização prolongada e o grau de comprometimento do estado nutricional (Waitzber & Caiaffa, 2001).
No ciclo da desnutrição hospitalar, essa condição aumenta significativamente os riscos de complicações, aumenta o período de internação e acarreta outros gastos; e assim aumentando ainda mais o custo da hospitalização (Waitzberg & Correia, 2003). As verbas reembolsadas pelo estado nessas condições são insuficientes para compensar os gastos adicionais, levando a perdas que se refletem na falta de recursos no setor da saúde (Waitzberg & Correia, 1999; (Waitzberg & Caiaffa 2001; Waitzberg & Correia, 2003).
Entretanto, nem sempre é fácil demonstrar o impacto da TN na mudança do estado clínico do paciente. A doença base, os diagnósticos associados, as idades extremas e a imunodepressão são apenas alguns dos fatores de confusão que impedem a visualização do efeito da TN (Waitzber & Caiaffa 2001).
O ceticismo que envolve o tema dos custos da TN faz com que haja perguntas como: qual é o melhor modelo de cuidado? Qual é o melhor local para se manter o paciente recebendo cuidado nutricional – internado ou não? Qual é a melhor via de administração? Qual é a melhor fórmula? Especialistas clínicos dedicaram seus esforços na busca por respostas para essas questões em diversas situações socioeconômicas (Wolfe, 1993; Van Way, 2001).
O objetivo deste artigo é discutir o custo financeiro das decisões ligadas à TN em pacientes hospitalizados e aqueles tratados em programas domiciliares.
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Este artigo é um resumo. O artigo em sua íntegra pode ser encontrado na revista Nutrição em Pauta, edição Jul/Ago/2004
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