A desnutrição protéico-energética (DPE) constitui a doença intra-hospitalar mais prevalente, acometendo 50-90% dos pacientes de hospitais do 1º ao 3º mundo, dificultando a resposta aos tratamentos nutricional e clínico e aumentando a morbidade e mortalidade dos pacientes. A atenuação deste quadro passa, forçosamente, por atuação de equipe multiprofissional qualificada (de acordo com as portarias do Ministério da Saúde) e efetivamente preparada para o diagnóstico e implementação da terapia nutricional (TN) precoces.
O planejamento da TN envolve inicialmente a identificação do paciente em risco ou já desnutrido, pelos métodos de avaliação nutricional. A seguir, faz-se o cálculo dos requerimentos protéico-energéticos do paciente, seleciona-se a via de administração dos nutrientes (oral, enteral, parenteral), dependendo da tolerância e do trato gastrintestinal (TGI) funcionante, e escolhe-se o tipo de dieta mais adequada a ser administrada.
Após a implementação do plano terapêutico nutricional, deve-se monitorizar a avaliar os resultados obtidos. A reavaliação do paciente em intervalos regulares permite verificar a eficiência do planejamento inicial, assim como alterar o plano de suporte conforme a evolução do paciente.
A resposta metabólica ao trauma, stress, queimaduras e outras doenças hipermetabólicas está associada freqüentemente com aumento na concentração de hormônios catabólicos (catecolaminas, cortisol, glucagon) que exacerbam a neoglicogênese dos aminoácidos precursores, causando um aumento da degradação protéica e, consequentemente, aumento da proteólise muscular com balanço nitrogenado (BN) negativo.
Provocam também alterações do metabolismo de gordura e hidrato de carbono (hiperglicemia, resistência periférica à insulina, inibição da lipólise). A persistência e intensidade desse quadro metabólico podem precipitar ou acentuar a DPE. Estas situações hipermetabólicas, devido à redução do fluxo sangüíneo e isquemia, assim como a própria DPE, podem causar alteração de permeabilidade da mucosa intestinal com atrofia celular e diminuição da barreira protetora do intestino.
A DPE também pode deprimir a função imunológica humoral (disfunções dos linfócitos B) e celular (disfunções dos linfócitos T), que, associada à alteração permeabilidade mucosa intestinal, resultam no aumento de infecções oportunistas, sepsis, morbidade e mortalidade de pacientes hospitalizados. Consequentemente, se elevam as demandas de cuidados intensivos, terapêuticas especializadas, tempo de hospitalização e custo.
A utilização dos nutrientes chamados imunomoduladores, que apresentam funções fisiológicas específicas estimulando a função imune e mantendo a integridade da mucosa intestinal, pode melhorar o estado crítico dos pacientes. Dentre os imunomoduladores temos a glutamina, arginina, ácidos graxos (AG) w-3 e os nucleotídeos. São indicados para as situações associadas à imunossupressão ou stress metabólico, como trauma, fraturas múltiplas, queimaduras, câncer, AIDS, infecções crônicas, sepsis e outras.
A glutamina é o aminoácido plasmático livre mais abundante no organismo, constituindo mais de 50% do total circulante. É considerado condicionalmente essencial, ou seja, sob certas condições clínicas (como stress, trauma, sepsis) a síntese endógena de glutamina pode ser inadequada para atender as necessidades, sendo necessária a sua suplementação.
A arginina também é um aminoácido considerado condicionalmente essencial. Está envolvida na síntese protéica, biossíntese de aminoácidos e seus derivados, sendo que sua administração está relacionada a uma maior retenção N. Sua suplementação chega a reduzir as perdas de N em 60% dos pacientes com trauma cirúrgico.
Quando os AG w-3 EPA e DHA são incluídos na dieta por meio de óleo de peixe marinho, já que a produção endógena a partir do ácido a-linolênico é ineficaz, eles competem com o AA dando origem a diferentes séries de PG e LT: a PGE3, com menor ação pró-inflamatória, e o LTB5, fraco quimiotático (30 vezes menos potente). Consequentemente, ocorre diminuição dos eicosanóides w-6 e melhora da resposta imunológica e do quadro inflamatório.
Os AG w-3 são também indicados na DII e outras doenças inflamatórias. Indica-se o uso associado aos TCM pelo fato destes também reduzirem as PGE2. A relação recomendada w-6:w-3 para indivíduos sadios é de 4 -7: 1. Não se sabe ao certo a relação ideal para estas situações hipermetabólicas, porém, os AG w-3 não devem exceder 10% das calorias totais da dieta.
Os nucleotídeos são precursores do DNA, responsável pela síntese do RNA, que, por sua vez, é indispensável para a síntese de proteínas. Os nucleotídeos da dieta são necessários para a máxima atividade/função dos linfócitos T. Assim, o estímulo da função imunológica, se deve a melhora da imunidade celular.
Consequentemente, reversões da imunossupressão induzidas pela DPE e resistência a infecções foram verificadas nos estudos. Portanto, os nucleotídeos, particularmente o RNA, são importantes para a resposta imunocelular. Os antioxidantes também são considerados nutrientes com funções específicas no organismo, inclusive no sistema imunológico. Dentre eles, temos as vitaminas A, E e C, e os minerais selênio e cromo.
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Este artigo é um resumo. O artigo em sua íntegra pode ser encontrado na revista Nutrição em Pauta, edição Set/Out/2000
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