Entre os grandes avanços da medicina do século, que ora se encerra, encontra-se a nutrição parenteral total. Por este método pacientes, que tinham como certo seu destino fatal, podem ser mantidos vivos por um longo tempo. No entanto, 25 anos depois da descoberta da NPT, continua alta a prevalência da desnutrição hospitalar em todo o mundo , permanecem presentes o desconhecimento do estado nutricional dos doentes internados e a falta de seu tratamento adequado.
Prova disto são os dados obtidos pelo Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional - IBRANUTRI , realizado pela SBNPE , que avaliou em 1996, 4000 doentes internados , em todo o Brasil, na rede SUS. O IBRANUTRI identificou 48,1% de desnutrição hospitalar, sendo que em menos de 20% dos doentes houve alguma referência ao estado nutricional . Em termos de medida de peso , tampouco mais de 15% tiveram alguma anotação em seu prontuário, seja ela referente ao peso da admissão , atual ou usual.
Como a desnutrição pode ser considerada o distúrbio da saúde de maior prevalência no hospital, justificam-se seu diagnóstico e tratamento. Desnutrição é um estado mórbido secundário a uma deficiência ou excesso, relativo ou absoluto, de um ou mais nutrientes essenciais , que se manifesta clinicamente ou é detectado por meio de testes bioquímicos, antropométricos , topográficos ou fisiológicos. A desnutrição está presente em 19 a 80% dos pacientes hospitalizados por diversos estados mórbidos.
A literatura mundial consigna mais de 140 trabalhos que se preocuparam com a avaliação nutricional do paciente hospitalizado, a desnutrição proteico-calórico está presente entre 30 e 50% dos casos. A importância do diagnóstico e tratamento da desnutrição torna-se clara na medida em que ocorrem associações entre a desnutrição e maior permanência hospitalar, maior freqüência de complicações , menor velocidade de cicatrização, maior morbi-mortalidade e maior dispêndio de recursos. Já em 1988, Reilly, estudando 771 pacientes, verificou que pacientes com maior probabilidade de desnutrição apresentaram 2,6 vezes mais complicações menores e 3,4 vezes complicações graves que pacientes nutridos.
O pior resultado de um tratamento hospitalar é a morte do paciente. Enfermos desnutridos ou em risco de desnutrição apresentaram 3,8 maior probabilidade de morte que pacientes sem risco nutricional. Observou-se que doentes desnutridos permanecem o dobro de tempo internados se comparado com o número de enfermos não desnutridos. Aqueles sob desnutrição evidente permaneceram internados por um tempo 90% maior, e aqueles cujo estado nutricional encontrou-se no limite ficaram internados por tempo 24% superior.
Pacientes internados em bom ou regular estado nutricional podem, muitas vezes, apresentar piora do seu estado nutricional por várias razões: dor, ansiedade, novo ambiente, diferentes padrões alimentares, uso e interação de terapêutica agressora e medicamentos ao lado da desatenção da equipe de saúde para com seu estado nutricional. Isto foi confirmado pelo IBRANUTRI na medida que a freqüência da desnutrição piorou significativamente com a progressão do tempo de internação hospitalar.
Desse modo, nas primeiras 48 horas, a desnutrição foi de 31,8 % , para chegar em 44,5 % entre o terceiro e sétimo dia, até o nível de 61 % nos doentes internados por mais de 15 dias. À partir destas considerações torna-se clara a importância de se estabelecer o diagnóstico do estado nutricional dos pacientes internados, seja por meio de um rastreamento nutricional ou por meio da avaliação nutricional.
Rastreamento nutricional é o processo de identificação das características relacionadas a problemas nutricionais que permite reconhecer pacientes em risco nutricional. Já a avaliação nutricional consiste na coleta de dados clínicos, dietéticos, bioquímicos e de composição corpórea com a finalidade de identificar e tratar doentes com alterações do estado nutricional. Ambos processos permitem classificar os doentes em categorias nutricionais que necessitam reavaliação posterior ou imediata intervenção nutricional.
A diferença consiste no tipo e profundidade da informação obtida, no tempo e custo dispendidos na obtenção de dados. As atribuições e nível técnico das pessoas que coletam os dados também são distintos.
Autor
Os autores estão em ordem alfabética
Este artigo é um resumo. O artigo em sua íntegra pode ser encontrado na revista Nutrição em Pauta, edição Jan/Fev/1999
Rua Cristóvão Pereira, 1626, cj 101 - Campo Belo - CEP: 04620-012 - São Paulo - SP
contato@nutricaoempauta.com.br
11 5041-9321
Whatsapp: 11 97781-0074