O Brasil vivencia o processo de envelhecimento populacional à semelhança dos países desenvolvidos. Esse processo caracteriza-se por aumento proporcional de pessoas idosas em relação à população total. Dessa forma, o Brasil vai deixando de ser um país jovem, como durante muito tempo foi denominado, para presenciar o envelhecimento de sua população. Esse processo "privilegia" as mulheres, que comprovadamente vivem mais que os homens. Em países em desenvolvimento, são considerados idosos indivíduos com 65 anos ou mais e, nos países desenvolvidos, aqueles com 60 anos ou mais.
De acordo com a professora Dra. Maria de Fátima Marucci, este fato ocorre devido à queda nos coeficientes de fecundidade e de mortalidade. Está, também, associado à melhoria das condições de vida (moradia, alimentação, estilo de vida) e ao avanço do conhecimento científico, o que propicia diagnósticos e tratamentos precoces, bem como colabora na prevenção de agravos à saúde por meio de vacinas e medicamentos. Essa modificação, relacionada à estrutura etária e ao sexo, é denominada "transição demográfica".
Devido a essas modificações, verifica-se, também, alterações no perfil da população no que se refere à morbidade e à mortalidade. Assim, enquanto as doenças infecciosas e parasitárias ocupavam lugar de destaque anteriormente, agora estão sendo substituídas por doenças crônicas não transmissíveis (crônico-degenerativas), como aterosclerose, hipertensão, diabetes, obesidade, osteoporose e outras. Essa mudança é denominada "transição epidemiológica". Vários fatores interferem no processo de envelhecimento e também no aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis. Entre esses fatores, pode-se citar os de natureza genética, que não são passíveis de intervenção, e os de natureza ambiental, sobre os quais pode-se agir.
Entre estes últimos, encontra-se a alimentação, que exerce papel fundamental na promoção, na manutenção e na recuperação da saúde, desde que seja nutricionalmente adequada. Várias doenças que se apresentam mais prevalecentes em indivíduos idosos estão relacionadas à alimentação, seja como causa ou como forma de tratamento ou controle. Nutrição x Envelhecimento Uma das formas que temos para conhecer este perfil de alimentação e nutrição dos idosos é a partir de pesquisas populacionais utilizando tanto a antropometria para diagnóstico do estado nutricional, quanto a aplicação de inquéritos de consumo de alimentos para conhecer o padrão alimentar deste grupo etário.
Na determinação do diagnóstico do estado nutricional, a partir da antropometria, as medidas recomendadas são: peso, estatura, circunferência do braço, pregas cutâneas tricipital e subescapular. O Índice de Massa Corpórea (IMC), que utiliza o peso e a estatura, como critério diagnóstico é bastante útil, tanto ao nível individual como populacional. É muito simples de ser feito e permite comparação com estudos nacionais e internacionais.
Das alterações corpóreas que ocorrem no processo de envelhecimento, a estatura parece ser a medida mais afetada, conseqüência provável dos processos de sifose, escoliose e osteoporose que acometem muito freqüentemente esta população. De acordo com a professora Myrian Najas, uma das formas de corrigir este problema é utilizar a medida do comprimento da perna como um preditor da estatura. Para o cálculo da estatura, uma das fórmulas utilizadas tem sido a proposta por Najas e validada para a população brasileira. Elas levam em consideração a raça e o nível de escolaridade, como um marcador de nível sócio-econômico, uma vez que estes fatores são determinantes da estatura.
Patologias mais comuns no idoso Os problemas nutricionais dos idosos têm aumentado, uma vez que eles, na sua maioria, além do envelhecimento fisiológico que pode levar ao declínio, proporcional ou não, de várias funções orgânicas, são pessoas sócio-economicamente menos produtivas, dependentes física e mentalmente e têm a alteração do estado nutricional, agravada pelo tratamento medicamentoso de diversas patologias relacionadas principalmente ao sistema digestório, cardiovascular, endócrino-renal, neurológico, neoplasias etc.
De acordo com a professora Dra. Nelzir Trindade Reis, os fármacos usados no tratamento das patologias podem, por seus efeitos colaterais (xerostomia, sialorréia, alteração da palatabilidade, diminuição da sensibilidade olfativa, acloridria, diarréia, constipação etc), causar limitações na ingestão alimentar, bem como provocar interações com os nutrientes, levando à alteração do estado nutricional dos idosos, agravado pelo uso de próteses dentárias, bebidas alcoólicas, auto-medicação, depressão e ansiedade.
O paciente idoso deve ser avaliado criteriosamente antes da prescrição do fármaco, pois o mesmo pode ter sua biodisponibilidade alterada pelos nutrientes ou estes podem ter sua absorção, metabolismo e excreção prejudicados pela droga, culminando com o agravamento da má nutrição. Múltiplas drogas são prescritas concomitantemente (laxativos, hipoglicemiantes, hipotensores, diuréticos, hipolipemiantes, suplemento de potássio, derivados salicílicos etc) provocando interações medicamentosas e potencializando as interações nutrientes x medicamentos ( ligadas aos macro e micronutrientes), prejudicando mais o idoso, tornando delicado o manejo nutricional.
Suplementação para Idosos A necessidade de que o idoso seja suplementado apresenta inúmeras variáveis, como quanto aos suplementos de aminoácidos, já que sabe-se que não é verdade a idéia de que estes têm qualquer efeito no processo de envelhecimento, e que o que deve ser feito, é encorajar a ingestão de refeições nutricionalmente adequadas, com consideração especial aos alimentos ricos em proteínas.
No entanto, segundo a nutricionista Dra. Márcia Daskal Hirschbruch, se o idoso apresentar níveis baixos de algumas vitaminas e minerais como por exemplo, folato, ácido ascórbico, vitamina A e zinco, deve-se avaliar a necessidade da ingestão de suplementos vitamínico-minerais a fim de fornecer uma condição nutricional adequada. Quando há indicação de suplementação para os idosos, deve-se dar atenção especial para o fato de que estes apresentam um risco aumentado quando tomam grandes doses devido ao tecido magro corpóreo estar diminuído e da função renal reduzida.
Estudo Institucional O estudo e o conhecimento do processo de envelhecimento ganhou interesse considerável nos anos recentes. Agora, mais do que nunca, existe um interesse crescente em se identificar os fatores que levam a um envelhecimento sadio. Além disso, existe também um grande interesse dos estudiosos em nutrição para ligar as práticas dietéticas com a redução ou retardo das mudanças e doenças que surgem com o envelhecimento, já que a boa nutrição está associada com o aumento da qualidade e expectativa de vida das pessoas.
Com base nisso, uma equipe de pesquisadores realizou um trabalho com o objetivo principal de desenvolver um alimento que satisfizesse as necessidades nutricionais que muitas vezes não são proporcionadas pela dieta do dia a dia devido às deficiências existentes numa alimentação inadequada. A pesquisa foi realizada no ano de 1999 em idosos vivendo em uma instituição geriátrica denominada Lar dos Velhinhos de Piracicaba - SP tendo sido conduzida por pesquisadores da área de Nutrição Humana e Medicina da Universidade de São Paulo. Os pesquisadores participantes deste estudo foram: Dra. Jocelem Mastrodi Salgado; Dra. Esther Laudanna; Dra. Andrea Dario Frias; Dr. César Furlan e Dra. Patrícia Noqueira.
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Este artigo é um resumo. O artigo em sua íntegra pode ser encontrado na revista Nutrição em Pauta, edição Set/Out/2000
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