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A Interrelação entre Nutrição e Imunidade

A interdisciplinaridade entre a Nutrição e a Imunologia compreende uma área de conhecimento que, nos últimos anos, tem recebido importantes contribuições de pesquisas científicas, apesar de há muito se saber empiricamente que, é necessário se ter um estado nutricional ideal para que se obtenha uma imunidade ideal. A Nutrição como ferramenta para modular o sistema imune, produzindo um estado ideal de imunidade, tem se tornado um fato real não apenas em estados patológicos de imunodepressões, como também para a manutenção de estados saudáveis em pessoas sem comprometimento do seu sistema imune.

Convém enfatizar que esta relação Nutrição-Imunidade é extremamente dinâmica: tanto uma “overdose” de nutrientes como a deficiência podem levar a conseqüências negativas. Esta dinâmica também se observa na direcionalidade da relação, pois estados infecciosos decorrentes de uma deficiência da imunidade podem ocasionar má nutrição:

1. Infecções intestinais que podem alterar a absorção e a biodisponibilidade de nutrientes.
2. A febre incrementa o requerimento calórico (cada grau a mais eleva a necessidade calórica em 7%).
3. Infecções crônicas incrementam a glicogênese/ lipogênese.
4. A maioria das infecções altera o metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas, balanço eletrolítico e níveis de micronutrientes.
5. As alterações das secreções hormonais (principalmente corticosteróides) durante flutuações da imunidade interferem no metabolismo de nutrientes.

Entretanto, neste trabalho procuraremos nos reportar às interferências que os nutrientes determinam na imunidade.


Imunidade
Imunidade pode ser definida como o conjunto concatenado de mecanismos e respostas, utilizados pelo corpo para defende-lo contra substâncias estranhas, microorganismos, toxinas e células não compatíveis. A imunidade pode ser inespecífica ou específica.

Imunidade Inespecífica
Em uma primeira etapa da interação do corpo com os materiais estranhos, diversos mecanismos de defesa inespecíficos participam da interação, constituindo por assim dizer as nossas primeiras linhas de defesa e denominam-se imunidade inespecífica ou inata. Esta imunidade inata provém de mecanismos de defesa passivos e ativos.

As defesas passivas incluem barreiras anatômicas (membranas, mucosas, pele, etc.), secreções exógenas (mucina, saliva, fluidos bronquiais, HCl gástrico, properdina, lisosimas, etc.), atividade ciliar, fatores fisiológicos normais (idade, sexo, raça, ritmo circadiniano, etc.), flora microbiológica normal e mesmo fatores ambientais e ocupacionais.

Já as defesas ativas da imunidade inata incluem uma diversa gama de respostas fisiológicas ( taquicardia, elevação da temperatura corpórea, vômito, diarréia, espirro, tosse, etc.), atividade fagocítica de células especializadas, reações inflamatórias, formação de óxido nítrico e peróxido de hidrogênio, bem como os padrões estereotipados das reações de fase aguda (mialgias, febre, sonolência anorexia, alterações nos padrões de síntese e degradação protéica no fígado e músculos, etc.). Incluem-se dentro da imunidade inespecífica ativa a produção de proteínas plasmáticas de fase aguda, ativação do sistema complemento, cinina e de coagulação, hormônios e citocinas.

Imunidade Específica
Havendo a persistência do material estranho após a primeira interação , os processos bioquímicos envolvidos na imunidade inespecífica sinalizam para que sejam ativadas uma etapa de defesa subsequente, denominada imunidade específica ou adaptativa ou mesmo adquirida. Basicamente este tipo de imunidade envolve a interação antígeno - anticorpo, que se inicia com o reconhecimento do antígeno pelos receptores de linfócitos T e B, a proliferação de clones linfocitários com reatividade antigênica específica, a produção e liberação no plasma de imunoglobulinas de alta afinidade antigênica e a “memorização” desta resposta específica que poderá ser reativada em uma futura infecção.

Esta relação Nutrição - Imunidade inicia-se já no local de absorção dos alimentos, ou seja no Sistema Digestório.
Como a maioria das substâncias estranhas provém do exterior de nosso corpo, é de se esperar que abaixo de nosso epitélio externo encontremos concentrado uma grande atividade de células, tecidos e moléculas envolvidos na imunidade.

Se tomarmos a mucosa do intestino delgado de um indivíduo adulto e desdobrarmos suas pregas e vilosidades, obteremos uma superfície de cerca de 300-400 m². Já a superfície da pele que reveste o corpo de um homem adulto é de cerca de 1,8 m². Sendo assim, nossa maior via de contato com o mundo externo se processa através do aparelho digestório.

Do ponto de vista estrutural, o sistema imune humano está dividido em: sistema central, compreendendo a medula óssea e o timo; sistema periférico, compreendendo o baço, linfonodos e o MALT (tecido linfóide associado às mucosas). Certamente o principal componente do MALT é o GALT ( tecido linfóide associado ao intestino). Em um indivíduo adulto vamos encontrar cerca de 80% de suas células produtoras de anticorpos associadas à mucosa do intestino delgado; é no intestino que vamos também encontrar a maior concentração de microorganismos, aí incluídos a flora probiótica bem como toda uma flora potencialmente patogênica. Animais de laboratório mantidos isentos de germes desde o nascimento (“germ free”) apresentam um GALT extremamente reduzido.

Pelo que foi exposto, fica evidente que a presença de uma alta atividade imune associada ao local de maior absorção de nutrientes do organismo não deve ser apenas uma casualidade anatômica.

Autores

Dra. Eveline Bertola Nutricionista, UFF; Nutrição Clínica, Universidade São Camilo;Nutricionista Chefe, Hospital Sta. Filomena, Rio Claro, SP
Prof. Dr. Hércules Menezes Biólogo, USP; Doutor, Instituto de Biociências, USP; Prof. de Imunobiologia, IB-UNESP, Rio Claro, SP

Os autores estão em ordem alfabética

Este artigo é um resumo. O artigo em sua íntegra pode ser encontrado na revista Nutrição em Pauta, edição Jul/Ago/2001

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