1) Qual é a amior preocupação com a saúde das crianças?
Cada dia mais, temos “doenças de adultos” em crianças. Isso pode ser percebido pelo grande aumento de obesidade infantil, diabetes tipo 2 e hipertensão arterial diagnosticados entre crianças e adolescentes. A obesidade infantil é visível. A hipertensão arterial pode ser medida. Porém, o diabetes tipo 2 e a dislipidemia familiar (problemas com colesterol) só podem mesmo ser avaliados nessa faixa de idade através de exames rotineiros, baseados em determinados critérios estabelecidos
2) O que é o colesterol?
Antes de tudo, vale uma observação importante: o colesterol é uma gordura de origem animal. Assim quando se lê que um óleo de origem vegetal (soja, canola, milho, etc.), usado para nossa alimentação, contém zero de colesterol, é tudo o que se espera.
De toda a gordura que ingerimos em nossa alimentação diária, 90% vem na forma de triglicérides e apenas 10% como colesterol. Isso explica, por exemplo, porque a dieta ou a reeducação alimentar conseguem diminuir drasticamente os níveis de triglicérides, mas não apresentam a mesma eficácia na redução dos níveis de colesterol, sendo necessário, muitas vezes, um tratamento medicamentoso. O colesterol é um componente importante de nosso organismo. Cerca de 65 a 70% do colesterol que temos é produzido pelo nosso fígado; apenas 30 a 35% vem da nossa alimentação. O colesterol faz parte da formação dos hormônios esteroides, da síntese de ácidos biliares e é precursor da vitamina D, entre outras funções nas membranas celulares, sendo um dos compostos da bainha de mielina (que recobre os nervos - sem a qual há um risco de prejuízo de nossos impulsos nervosos fica prejudicada, algo que pode ser visto no filme óleo de Lorenzo).
3) O colesterol alto pode trazer problemas para saúde?
Todos sabem que níveis altos de colesterol no sangue podem acarretar problemas vasculares cardíacos, cerebrais entre outros. O colesterol é transportado no nosso corpo pelo sangue por proteínas que se ligam a ele (LDL e HDL).Todo o colesterol que vem do fígado ‘passeia’ pelo sangue na forma de LDL e é levado para os órgãos para serem utilizados para suas funções. Quando há um excesso de colesterol no sangue, cai a sua captação pelas células. Assim, o LDL colesterol se deposita nas paredes dos vasos, diminuindo o fluxo de sangue através deles, levando à arteriosclerose com suas consequências. Esse é o colesterol ruim.
O LDL pode estar aumentado por características familiares, genéticas, por obesidade, por hipertensão, sedentarismo, tabagismo e também por hábitos alimentares ruins. Já o HDL colesterol capta o excesso que está no sangue, leva-o de volta ao fígado e o elimina através da bile ou pela forma natural ou como sais biliares. Dessa forma, quanto maior nossa taxa de HDL, mais protegidos ficamos contra a arteriosclerose. Esse é o colesterol bom.
4) A Hipercolesterolemia é um problema que pode vir “do berço”?
Até há algum tempo, apenas os obesos eram “culpados” quando o assunto era colesterol aumentado. E esse quadro acometia principalmente a faixa entre adultos jovens e a terceira idade. Com a transcrição do nosso DNA, com descoberta da epigenética, da nutrogenômica, estabeleceu-se um novo e assustador panorama. Todos nascem com genes que podem desencadear problemas de colesterol. De acordo com a alimentação da gestante até a criança de 2 anos de idade (os primeiros mil dias), o gene não muda, mas pode manifestar sua capacidade de desenvolver determinadas características. Explicando melhor: numa família não há nenhum caso de problemas com colesterol. Através de uma alimentação inadequada na gestação e nos dois primeiros anos de vida da criança (rica em frituras, gordura, pobre em frutas fibras, por exemplo), ocorre o estímulo à ação do gene que vai fazer com que essa a criança passe a ter seus níveis de LDL colesterol (o ruim) aumentado.E essa criança, não só pode ter que conviver com esse problema pelo resto de sua vida, como também passa a transferir essa característica genética a seus descendentes. Assim surge a sombra de um quadro, cada vez mais frequente, que vem atingindo crianças cada vez mais novas: a hipercolesterolemia familiar.
Por conta desse aumento nos índices de obesidade (adulta e infantil) dos últimos 20 anos e do número alarmante de crianças com doenças de adultos, a Sociedade Brasileira de Cardiologia, divulgou em sua Revista (agosto de 2012), a primeira Diretriz Brasileira de Hipercolesterolemia Familiar (HF).
5) O que mudou com esta diretriz?
Até o surgimento dessa diretriz, a rotina orientada pela Sociedade Brasileira de Pediatria era de se colher exames (glicemia de jejum, insulina basal, índice de HOMA-IR, dosagem de colesterol total e frações, de triglicérides, entre outros) a partir dos 10 anos.
Desde então, a triagem de perfil lipídico passa a ser rotineira entre 2 e 10 anos de idade quando houver:
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