A nutrição precoce (no período pré- e pós-natal) pode comprometer o desenvolvimento imediato e a longo prazo, com profundas conseqüências nas doenças degenerativas de adultos. Além disso, o risco de uma doença tardia é maior quando a subnutrição intra-uterina e a restrição do crescimento são seguidas pela supernutrição e pelo crescimento compensatório.
Há evidências crescentes de que a “programação” metabólica da doença do adulto é mediada por hormônios. Portanto, essa revisão se concentra na nossa pesquisa sobre o papel-chave dos hormônios na regulação nutricional do desenvolvimento. A nutrição precoce afeta inúmeros hormônios e seus receptores, que por sua vez regulam a expressão de uma vasta gama de genes envolvidos no crescimento, diferenciação e metabolismo.
Nossos resultados recentes sobre a expressão do gene receptor de hormônios em músculos funcionalmente diferentes como o esquelético e o cardíaco enfatizam os mecanismos pelos quais a subnutrição pode comprometer o desenvolvimento e causar resistência à insulina, diabetes e doença cardiovascular (Dauncey e col., 2001). A melhor compreensão dos mecanismos subjacentes à regulação nutricional do desenvolvimento se faz urgente para que se determine estratégias ótimas para a prevenção de doenças, promoção da saúde, qualidade de vida e longevidade.
A nutrição pré- e pós-natal causa efeitos tanto imediatos quanto a longo prazo no desenvolvimento e isso tem implicações importantes na incidência de doenças degenerativas de adultos (Widdowson & Kennedy, 1962; McCance & Widdowson, 1974; Lucas, 1994; Barker, 1995; Dauncey, 1997; Dauncey & Bicknell, 1999; de Angelis, 2001; Martinez & Camelo, 2001). Os períodos críticos do desenvolvimento ocorrem em todos os sistemas biológicos, e a longo prazo pode haver conseqüências permanentes.
A “programação” é um fenômeno pelo qual um fator ambiental, como a nutrição, atuando em um período crítico do desenvolvimento causa efeitos de longa duração ou permanentes, afetando a saúde e a doença. Se a subnutrição ocorrer durante o período crítico, pode haver mudanças de longa duração e permanentes no número, tipo, fisiologia e metabolismo das células de tecidos e sistemas associados. Portanto, as respostas a curto prazo que são benéficas à sobrevivência podem ter conseqüências graves a longo prazo.
Evidências sugerem que a incidência de doenças de adultos pode ser afetada pela subnutrição precoce. Tamanho pequeno e baixo peso ao nascer estão associados com um aumento na incidência de doenças coronarianas e da síndrome de resistência à insulina no adulto, com presença de intolerância à glicose, dislipidemias e hipertensão. A nutrição na infância e na idade adulta podem se somar aos efeitos adversos da subnutrição do feto e do bebê: a prevalência mais alta do diabetes tipo 2 é em pessoas que nasceram pequenas, mas que se tornaram obesas posteriormente.
Dessa forma, o risco de se desenvolver uma doença tardiamente é maior quando a subnutrição precoce e a restrição do crescimento são seguidas pela supernutrição e pelo crescimento compensatório.
A elucidação dos mecanismos pelos quais a nutrição regula o desenvolvimento é, portanto, relevante para a compreensão da ligação entre a nutrição precoce e a doença no adulto.
Há evidências crescentes de que a programação metabólica é mediada por hormônios e que o meio-ambiente nos estágios iniciais do desenvolvimento pode ter efeitos a longo prazo por meio da programação dos sistemas hormonais envolvidos no crescimento e desenvolvimento. As interações nutrição-hormônio-gene são particularmente importantes nesse contexto (Dauncey e col., 2001) e a figura 1 mostra algumas da vias relevantes que estudamos nos níveis celular e molecular.
Nossos estudos se concentraram em músculos funcionalmente diferentes como o esquelético e o cardíaco, não apenas porque são essenciais para o movimento, termogênese, respiração, função cardiovascular e intestinal, mas porque o músculo esquelético também desempenha um papel fundamental na determinação das taxas de oxidação de nutrientes e é o principal local periférico de ação da insulina. Assim, defeitos no desenvolvimento muscular podem afetar qualquer uma dessas funções e ter conseqüências a longo prazo no aumento da incidência de resistência à insulina, doença cardiovascular e diabetes.
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Este artigo é um resumo. O artigo em sua íntegra pode ser encontrado na revista Nutrição em Pauta, edição Mai/Jun/2004
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