1) Quais são os critérios para realizar a cirurgia de redução de estômago?
O paciente precisa atingir um IMC igual ou superior a 40. Se o obeso estiver com IMC entre 35 e 40, a cirurgia só será realizada caso existam outras doenças concomitantes, como cardiopatias, hipertensão ou diabetes, entre outras. Somente no caso de obesidade mórbida – IMC superior a 40 – o tratamento cirúrgico é indicado.
2) Como é calculado o IMC?
O IMC é calculado dividindo o peso do indivíduo pela sua altura ao quadrado. Assim, uma pessoa que mede 1,60 m poderá fazer a cirurgia caso tenha 103 kg ou mais. Se este mesmo paciente tiver outras doenças consideradas de risco, a partir de 90 kg poderá ser indicada. Muitas vezes o paciente vai ao consultório pensando na cirurgia e percebe que ainda não atingiu o IMC mínimo para justificar a intervenção, sendo orientado a realizar o tratamento clínico – com orientação nutricional, endocrinológica, psicológica (para controlar a ansiedade e compulsividade) e fazer exercícios físicos.
Achando que a opção cirúrgica poderia resolver os seus problemas mais facilmente, este paciente resolve engordar para atingir o IMC necessário. É difícil ter controle sobre isso, porque a pessoa, ao decidir engordar, não retorna ao meu consultório e opta por outro médico que não saiba que ela engordou propositadamente.
3) O paciente conhece os riscos desta cirurgia?
O maior problema desta escolha é que o paciente não tem noção de quanto a cirurgia é invasiva e de todas as restrições que terá de enfrentar pelo resto da vida. Um paciente que passa pela operação vai ter que reaprender a comer. É como se fosse um bebê.
4) Existe a ilusão de uma vida nova?
Se compara a cirurgia a um casamento, já que depois da lua-de-mel, nos seis primeiros meses, o paciente percebe que o processo não é tão mágico quanto esperava e que ele apenas deixou de ser obeso, mas continua com os outros problemas de antes. Geralmente, o obeso acredita que a cirurgia não vai deixá-lo apenas mais magro, mas que também vai lhe trazer um emprego, uma namorada e uma vida melhor como um todo, mas não é assim.
Uma tendência do paciente acima do peso é culpar a obesidade por todas as suas fraquezas, mas ele tem outras dificuldades como qualquer pessoa e isso só se torna evidente depois da cirurgia.
Nos casos em que o indivíduo engorda para poder se submeter à redução do estômago, a recuperação no pós-cirúrgico seja ainda mais difícil. Afinal, se o paciente passou os últimos meses antes da cirurgia aumentando a ingestão de alimentos, quando tiver que diminuir drasticamente o consumo após a cirurgia terá muita dificuldade.
Ao sair da compulsão excessiva para uma situação de controle é extremamente difícil e muitas vezes a pessoa pode voltar a engordar ou apresentar outros transtornos psicológicos. O paciente que se sente incomodado com a obesidade é capaz de tudo para se sentir melhor. Existem casos em que o obeso chegou a usar caneleiras de areia para parecer mais pesado na hora da consulta e conseguir autorização para a cirurgia.
5) É difícil conseguir a autorização para cirurgia?
Além da ansiedade que o obeso tem de emagrecer, existe outro fator que influencia esta decisão: o financeiro. Em cinco ou seis anos, o gasto que o obeso tem com o tratamento convencional paga o valor da cirurgia. Por isso, tanto o Sistema Único de Saúde (SUS) quanto os convênios médicos autorizam a operação nos casos mais sérios.
6) Como poderia ser reestruturado o atendimento?
A cirurgia muitas vezes é a única solução que um paciente encontra. Existe pessoa que está com o IMC acima de 80 e a operação é a única alternativa para que essa pessoa não morra. Mas ela afirma que nos casos mais simples, de IMC em torno de 30, existem outras possibilidades menos drásticas e que trazem resultado, desde que haja disciplina.
É claro que a cirurgia aparenta ser muito mais fácil e eficaz, mas na maioria dos casos a forma de tratamento indicada é o acompanhamento endocrinológico, nutricional, psicológico e a prática de exercícios físicos. Como solução seria necessária uma reestruturação do SUS. Se os hospitais públicos distribuírem inibidores de apetite, antidepressivos, oferecerem apoio psicológico e nutricional, além de fazer um acompanhamento físico, os obesos podem conseguir emagrecer sem optar por engordar para fazer a cirurgia.
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