A gordura está presente em nosso sangue na forma de lipoproteínas. Existem quadros de grandes classes de lipoproteínas que são separadas em dois grupos: as ricas em triglicérides (Quilomícrons e VLDL) e as ricas em colesterol (LDL e HDL).
O colesterol é importante para diversas funções, como produção de hormônios; produção de ácidos biliares e vitamina D; ativação de enzimas; e formação a membrana celular. A lipoproteína de baixa densidade (LDL) é conhecida como colesterol “ruim”, pois pode se depositar nas artérias, o que leva a obstrução. Já a lipoproteína de alta densidade (HDL), popularmente conhecida como colesterol “bom”, faz o oposto. Os distúrbios no metabolismo das lipoproteínas são conhecidos como dislipidemias, como o aumento do colesterol total, do LDL-c e dos triglicerídeos, e diminuição do HDL-c, sendo desenvolvidas de acordo com a exposição a fatores genéticos e/ou ambientais.
Classificação das dislipidemias
As dislipidemias podem ser classificadas de acordo com o componente alterado na análise laboratorial do sangue em:
Hipercolesterolemia isolada: aumento isolado do LDL-c (LDL-c ≥ 160 mg/dL);
Hipertrigliceridemia isolada: aumento isolado dos triglicérides (TG ≥ 150 mg/dL ou ≥ 175 mg/dL, se a amostra for obtida sem jejum);
Hiperlipidemia mista: aumento do LDL-c (LDL-c ≥ 160 mg/dL) e dos TG (TG ≥ 150 mg/dL);
HDL-c baixo: redução do HDL-c (homens < 40 mg/dL e mulheres < 50 mg/dL) isolada ou em associação ao aumento de LDL-c ou de TG.;
Quando devo me preocupar?
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), os valores ideais de colesterol total devem ser abaixo de 190 mg/dL, de HDL acima de 40 mg/dL e triglicérides abaixo de 150 mg/dL, sem diferenciação entre pessoas de baixo, médio ou alto risco cardiovascular. Já os valores máximos de LDL são classificados de acordo com o grau de risco do paciente, dessa forma, indivíduos com risco baixo devem manter o LDL abaixo de 130 mg/dL, os com risco intermediário abaixo de 100 mg/dL e os que apresentam alto risco alto abaixo de 70 mg/dL. O risco cardiovascular é estabelecido avaliando uma série de fatores como presença de doença aterosclerótica, diabetes melitus, doença renal crônica, LDl-c ≥190 mg/dL, hipertensão, tabagismo, sexo, etc.
O que pode acontecer se meu colesterol estiver alto?
Níveis elevados de colesterol geralmente são silenciosos e não causam sintomas, porém podem resultar em xantomas tendíneos (acúmulo de gordura nos tendões), xantelasma (depósito de gordura que ocorre logo abaixo da superfície da pele, especialmente ao redor dos olhos) e arco corneal (depósito de gordura dentro dos olhos). Contudo, o principal risco de apresentar colesterol elevado é o aparecimento de eventos cardiovasculares. O excesso de colesterol é o principal fator que leva à aterosclerose, doença inflamatória crônica de origem multifatorial que ocorre em resposta à agressão endotelial, acometendo principalmente a camada íntima de artérias de médio e grande calibre. Na aterosclerose, depósitos irregulares de gordura (ateromas ou placas ateroscleróticas) se desenvolvem nas paredes das artérias de médio e grande porte, levando a um fluxo sanguíneo reduzido ou bloqueado.
As artérias são estruturas similares a tubos, que têm a função de levar o sangue oxigenado vindo dos pulmões, impulsionado pelo coração para todos os tecidos do corpo. Quando uma artéria está obstruída, seja parcial ou totalmente, ocorre uma diminuição na quantidade de sangue que chega às células e, consequentemente, de oxigênio. Dependendo da localização da artéria e do grau de obstrução, esses eventos podem ser fatais. Algumas pessoas são predispostas geneticamente a terem taxas mais elevadas de colesterol, entretanto, outros fatores como idade, sexo, sedentarismo, tabagismo e dieta influenciam o desenvolvimento.
Os níveis de colesterol são afetados pela idade, ou seja, aumentam conforme as pessoas envelhecem, e são normalmente mais elevados em homens do que em mulheres, embora os níveis aumentem em mulheres após a menopausa.
Além disso, uma dieta rica em gorduras saturadas, bebidas alcoólicas, açúcares, carboidratos e gordura trans favorece o aumento dos níveis de colesterol LDL. Ao contrário do que se pensa, o consumo de colesterol alimentar tem pouca influência no aumento do colesterol sanguíneo, uma vez que 70% do colesterol é produzido pelo fígado.
Tratamento
O padrão alimentar e estilo de vida saudável ganharam destaque nos últimos anos e reforçam as diretrizes nutricionais que recomendam dieta isenta de ácidos graxos trans e redução do consumo de gordura saturada. Além disso, também é recomendado manter o peso dentro dos limites saudáveis, evitar o excesso de açúcar, substituição parcial de ácidos graxos saturados por mono e poli-insaturados, além do consumo de fibras. O consumo de ômega 3, fitosteróis, proteína de soja e fibras solúveis também foi associado a redução do colesterol.
A redução de bebida alcoólica e do consumo de açúcar e carboidratos é recomendada para o tratamento do excesso de triglicérides. A dieta do mediterrâneo mantém quantidades moderadas de gordura na dieta. Eliminar ácidos graxos trans, controlar o consumo de saturados, priorizar poli-insaturados e monoinsaturados, reduzir açúcares e incluir peixes e carnes magras, frutas, grãos e hortaliças na dieta vêm se apresentando como a melhor opção. Além de mudanças alimentares, é necessário realizar mudanças no estilo de vida como a prática de atividade física regular e a cessação do tabagismo. Apesar da importância das mudanças no estilo de vida para a prevenção e tratamento do colesterol alto e de possíveis eventos cardiovasculares, a redução nos níveis de colesterol pode ser limitada, uma vez que a maior parte é produzida pelo corpo.
Dessa forma, em pacientes com maior risco, mesmo que se comprometam a realizar mudanças drásticas no estio de vida, o uso de medicamentos será necessário para reduzir os níveis de colesterol.
Fonte
Dra. Ana Carolina de Oliveira - Nutricionista da Clínica Escola de Nutrição, vinculada ao curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
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