A utilização de recursos ergogênicos por atletas e desportistas, na tentativa de obter melhor desempenho físico ou aumento de massa e força musculares, teve início antes da era cristã, quando os heróis olímpicos, tinham suas invencibilidades atribuídas as grandes ingestões alimentares. Isso vem crescendo a cada século, com a ciência tentando achar uma justificativa para o uso, a industria oferecendo recursos tecnológicos de fácil utilização e a mídia facilitando o acesso e a divulgação.
Por isso, e pela falta de capacitação profissional, o uso indiscriminado dos ergogênicos nutricionais cresce descontroladamente, atropelando a divulgação do conhecimento científico. Desde os tempos mais remotos os desportistas procuram uma dieta apropriada ao esforço físico de cada esporte e, desde então, há referências contraditórias a respeito da carne e dos vegetais como coadjuvantes do trabalho muscular (Ishii et al., 1990).
Dromeus de Stymphalus, (Grécia, 450 AC) foi o primeiro a relatar adesão à ingestão de carne para melhora da força muscular. Em 350 AC, o campeão olímpico em sete olimpíadas sucessivas, Milo de Cróton, referia ingerir, diariamente, 9kg de carne, a mesma quantia de pão e 10 litros de vinho (Grandjean, 1997).
Existem ainda relatos históricos extravagantes sobre a associação alimentação e desempenho físico olímpico, como os de atletas que comiam cogumelos alucionogênicos para aumentar o desempenho (Verroken, 2001) e o do campeão dos 200 metros rasos (668 AC) que referia ingerir dieta especial à base de figos secos O velho testamento (livro de Daniel 1:3-16), menciona que há cerca de 2100 anos, a alimentação de Daniel e das tropas era composta de grãos integrais, leite e mel, além de água. Isto em contraposição à vontade do Rei que os soldados ingerissem as iguarias e o vinho componentes usuais das suas refeições. (Zucas, 1999).
Os primeiros ensinamentos sobre a alimentação do esportista foram fornecidos pelos filósofos gregos. Pitágoras preconizava alimentação exclusivamente vegetariana; Hipócrates considerava igualmente a quantidade e a qualidade dos alimentos, além de exigir a moderação do consumo. Galeno não permitia muita bebida e proibia o consumo excessivo de carne no período pré-competição. Mesmo assim, prevalecia a ambigüidade dietética, pois a força de Hércules era atribuída ao regime vegetariano, enquanto a vitória dos hunos à alimentação carnívora, assim como os sucessos náuticos dos escandinavos.
Dentro do conhecimento empírico, recomendava-se carne de cabra aos saltadores, carne de touro para os corredores e a de porco para os lutadores. Os lutadores bretões de Francisco I uniram os dois regimes alimentares e atribuíam suas invencibilidades à alimentação equilibrada, constituída de carnes e legumes(Zucas, 1999). Nas últimas décadas do século 19 (1870-1900) ciclistas europeus usavam heroína, cocaína e barras de açúcar para melhor rendimento nas suas provas (Tekin & Kravitz, 2004).
Em 1904, o campeão olímpico Tom Hicks ingeria estriquinina e aguardente antes de cada corrida. Em 1920, Charlie Paddock, campeão olímpico dos 100 metros rasos, consumia cerejas e ovos crus antes da competição (Tekin & Kravitz, 2004). Na segunda guerra mundial, os soldados das tropas alemãs recebiam testosterona com a intenção de aumentar a força e a agressividade antes da batalha.
Adicionalmente, eram usados suplementos nutricionais e drogas ergogênicas na tentativa de diminuir a perda muscular e recuperar as vítimas de queimaduras e desnutrição pós-cirúrgica (Tekin & Kravitz, 2004). A supremacia da ergogênese pela proteína dietética foi máxima por volta de 1842, quando afirmava-se ser a proteína o principal combustível para a contração muscular (Lemon, et al.,1992). Entretanto, no início do século 20 (1903), haviam pesquisadores já afirmando que a proteína não tinha efeito sobre o desempenho físico (Cathcart, 1925). Estudos comparando indivíduos que ingeriam carne com aqueles que, mantinham um regime vegetariano há algum tempo, concluíram que o consumo de carne ou de dieta hiperprotéica reduzia a resistência física.
Os corredores que melhor concluíram uma corrida de 50km, ingeriam dietas vegetarianas (Norgard &Rud, 1932). Até então prevalecia a importância da dieta vegetariana sobre o desempenho físico. Apesar de tantas controversas, mitos atribuídos aos poderes da elevada ingestão protéica, considerando-a potente contribuinte no aumento da massa muscular, persistem até hoje.
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Este artigo é um resumo. O artigo em sua íntegra pode ser encontrado na revista Nutrição em Pauta, edição Mar/Abr/2005
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