172 artigos encontrados em Nutrição e Esporte
Atividade Física e Transtornos Alimentares

A super valorização de práticas físicas e motoras em função de um estilo de vida chamado "saudável", forneceram o aval para difusão de toda e qualquer prática de exercícios físicos. Com isso, surgiram os nichos de práticas sistemáticas, de novas invenções e culto ao ideal de saúde preconizado. Não é difícil imaginar como facilmente essa filosofia voltou-se à valorização da beleza, correspondendo às necessidades comerciais e de novas respostas à eterna relação dual entre corpo e mente, vigentes desde a antigüidade em nossa cultura. Assim, a prática organizada de atividades tem se tornado parte da cultura contemporânea ocidental, ilustrando bem as imposições sócio-culturais e a manutenção dos padrões pré-determinados de saúde e, principalmente, estéticos.

O hábito de uma prática excessiva de exercícios físicos ou o "Compulsive Exercise", assim como os Transtornos Alimentares, podem ser determinados por fatores genéticos, sociais, familiares ou culturais. Essa compulsão caracteriza-se pela prática diária de atividades físicas padronizadas, de forma ininterrupta e obsessiva, como se a vida do praticante dependesse disso. Os indivíduos apresentam sintomas de irritabilidade, ansiedade e depressão ao não fazê-lo, e mantém o hábito mesmo contra recomendações médicas, mediante compromissos sociais, ou qualquer tipo de impedimento. É também comum a fadiga física e a perda de interesse por outros tipos de programas, bem como relacionamentos pessoais.

Na literatura, são propostos modelos de compulsão por exercícios físicos, sugerindo o envolvimento em atividades físicas intensas, relacionados a um transtorno alimentar semelhante à Anorexia Nervosa ou mesmo como uma síndrome independente:
1. "Obligatory Runner" ou corredores compulsivos: semelhante e independente ao problema alimentar, são descritos como indivíduos que correm regularmente mais de 80km/semana. No entanto, freqüentemente, apresentam algum tipo de transtorno alimentar.
2. Exercício físico em excesso como um sintoma do transtorno alimentar: a anorexia nervosa e a bulimia nervosa são os transtornos alimentares freqüentemente relacionados ao excesso e à compulsão por exercícios físicos, sendo maior a incidência desta compulsão na anorexia nervosa do que na bulimia. Além disso, pacientes compulsivos por exercícios físicos mostram um menor número de episódios compulsivos alimentares e uso de laxantes ou indução de vômitos em relação aos não-compulsivos , apesar de sua maior insatisfação corporal em relação aos não-compulsivos. Tais dados podem indicar uma troca das compensações, auto-punições ou atitudes compulsivas usuais pelo exercício compulsivo.
3. O exercício físico em excesso também pode desencadear o desenvolvimento de transtornos alimentares. Numa primeira possibilidade, os altos níveis de atividade física provocam uma redução na ingestão alimentar, que por sua vez gera uma hiperatividade por alterações no metabolismo hipotalâmico de serotonina, dopamina e norepinefrina, iniciando o ciclo anoréxico. Dietas restritivas em busca de uma melhor performance, completam uma segunda possibilidade de desenvolvimento de transtornos alimentares provocados pelo exagero na prática de atividades físicas.
4. Na literatura, há também descrito, o excesso de exercícios físicos como uma variação de um outro transtorno que não o alimentar, mas que apresenta-se por uma pré-disposição a ambos. As doenças afetivas, depressão e transtorno afetivo bipolar, seriam as principais com esta pré-disposição à prática excessiva de atividades físicas.

Relacionado ao transtorno alimentar, o excesso de exercícios físicos ocorre em função de uma distorção e insatisfação da própria imagem corporal, ou seja o modo de sentir o peso, o tamanho ou a forma corporal mostra-se exageradamente maior e inaceitável. Assim o exercício aparece como uma estratégia de submeter o corpo às perdas instantâneas, ou em formas inatingíveis pela determinação genética, ou mesmo como uma compulsão em si, levando ao ciclo anoréxico de restrição alimentar e excesso de atividade física. A imagem corporal, o ideal de beleza e os rígidos padrões de beleza socialmente aceitos são fortes fatores no desenvolvimento de transtornos alimentares e compulsão por exercícios físicos.

A especificidade do transtorno costuma apresentar tendência relacionada ao sexo. Adolescentes mulheres percebem-se muito mais acima do seu peso real que os homens. Em geral, o sexo feminino é mais suscetível aos transtornos alimentares, enquanto os homens são mais vulneráveis em relação ao seu nível de atividade. Referências são feitas à atividades físicas intensas como a corrida de longa distância, principalmente entre homens. No entanto, atualmente pode-se notar tendências à compulsão por atividades como a ginástica e a musculação entre mulheres, onde a busca por padrões de beleza muito rígidos, a insatisfação e distorção de imagem corporal, ou mesmo tentativas de purgar os Transtornos Alimentares caracterizam estas práticas.

O objetivo deste trabalho foi avaliar o grupo de pacientes bulímicos anoréxicos do ambulatório de transtornos alimentares no que diz respeito à freqüência, duração e motivação da prática de atividades físicas e sua relação com a distorção de imagem corporal que acompanha a disfunção. No home care, a atuação do nutricionista consiste na avaliação nutricional inicial e periódica, na determinação das necessidades de nutrientes, num plano individualizado, respeitando os hábitos alimentares, recursos e necessidades psicológicas, por meio de fichas específicas de acompanhamento. Os retornos são definidos na análise da eficácia e tolerância ao plano de cuidado estabelecido, seja via oral, enteral e/ou parenteral, bem como a adoção de estratégias, visando promover, na medida do possível, a educação nutricional a parentes e familiares.

Autores

Cynthia Antonaccio Nutricionistas formadas pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Mestranda em Nutrição Humana Aplicada pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Nutricionista do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (AMBULIM) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
Karin Louise Lenz Dunker Nutricionistas formadas pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Mestranda em Nutrição Humana Aplicada pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Nutricionista do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (AMBULIM) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
Silmara dos Santos Luz Professora de Educação Física formada pela Escola de Educação Física e Esportes da USP. Mestra em Nutrição Experimental pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Educadora Física do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (AMBULIM) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Professora da Espoarte do Colégio Friburgo - SP. Educadora Física Individualizada

Os autores estão em ordem alfabética

Este artigo é um resumo. O artigo em sua íntegra pode ser encontrado na revista Nutrição em Pauta, edição Nov/Dez/1998

Contato

Endereço

Rua Cristóvão Pereira, 1626, cj 101 - Campo Belo - CEP: 04620-012 - São Paulo - SP

Email

contato@nutricaoempauta.com.br

Telefone

11 5041-9321
Whatsapp: 11 97781-0074

Nossos Patrocinadores