Graças aos avanços científicos, as intervenções médicas, o saneamento básico e a conscientização ecológica, tem sido possível a maior longevidade populacional.
A expectativa de vida que, em 1950, era de 60 anos e 40 anos, em países ricos e pobres, respectivamente, situa-se hoje acima de 70 e 60 anos. Há tendências que convirjam (ricos e pobres) para os 80 anos, em 2050. Paralelamente ou como conseqüência desta maior longevidade evidencia-se declínio da prevalência da população jovem (até 14 anos) a partir de 1970.
Esses jovens que atingiam 54,3% em 1950, serão 19,6% em 2050 enquanto que, nesse período, os idosos (acima de 60 anos) que eram 8,10% (em 1950) atingirão 22,1% (1,97 bilhões de pessoas) em 2050.
No Brasil, segundo o IBGE, o crescimento da população idosa passou de 4,2%, em 1950, para 8,7% em 1997 e estima-se 24%, isto é quase um quarto da população brasileira, em 2050.
Nesta população, cada vez mais grisalha, nota-se mudança também no panorama das causas de mortalidade. O século 20 foi caracterizado pela redução da mortalidade por doenças infecto-contagiosas e parasitárias e aumento das doenças crônico-degenerativas.
Esse quadro comprova o sucesso dos programas de saneamento básico e alimentação dos países pobres e dos atendimentos médicos-hospitalares dos países ricos.
Como resultado tem-se a redução da mortalidade mas com aumento da morbidade. De fato, segundo a OMS, doenças cardiovasculares e câncer puderam ser responsabilizadas por 60% e 34% das mortes ocorridas, em 1996, nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, respectivamente. Assim, a população está vivendo mais, mas mais doente, ou seja, sem qualidade (de vida).
O estilo de vida constitui o principal fator de risco para mortalidade de causa cardiovascular ou câncer.
Dentro do estilo de vida, alimentação e atividade física constituem os principais determinantes da obesidade e esta, o principal fator de risco para doenças crônico-degenerativas.
Segundo a OMS, a obesidade (>30kg/m2) atinge 7% da população mundial enquanto 14-20% apresentam sobrepeso (3025 kg/m2). Estima-se que 38% da população adulta brasileira esteja acima do peso (>25 kg/m2), com maior prevalência dentre as mulheres.
A proporção entre adultos desnutridos/adultos obesos que, no Brasil, se equivalia em 1974-1975, em 1989 já apresentava grande predominância (4-5 vezes) dos obesos. Neste período a população obesa brasileira (>30 kg/m2) saltou de 5% (1974) para 8,5% (em 1989) e daí para 11,5% em 1996.
Dentre os distúrbios patológicos associados à obesidade têm-se: hipertensão arterial, disfunção ventricular esquerda, resistência insulínica e hiperglicemia, dislipidemias, doenças articulares e gôta, disfunção respiratória, disfunção renal, disfunção vesicular e câncer. As neoplasias mais freqüentes, nos homens são de cólon, reto e próstata, e dentre as mulheres, intestino, duto biliar, endométrio, cérvix e ovário.
A obesidade é decorrente da persistência de balanço energético positivo resultando em expansão de tecido adiposo. Desta forma, os determinantes seriam a maior ingestão e/ou menor perda energética, ou sejam, distúrbios alimentares e inatividade física.
A maior ingestão energética deve-se aos distúrbios quantitativos e qualitativos da ingestão alimentar, motivados, invariavelmente, pelo desconhecimento e/ou desinformação nutricional. A gordura alimentar tem sido eleita a vilã nutricional da obesidade.
É o substrato energético de maior contribuição calórica (mais que o dobro dos demais macronutrientes). Sua participação na dieta era de 3% na década de 50, saltou para 8% nos anos 70 e em 1985 já atingia 41%. Neste período, a prevalência de IMC>31 kg/m2 pulou de 1% para 8%. Estes dados de um estudo dinamarquês podem ser adequadamente generalizados aos demais países. Do ponto de vista cultural a substituição crescente da refeição familiar, mais completa e balanceada, pelo "fast food" das ruas caracterizado mais pelo sabor (adocicado e gorduroso) que pela qualidade dos seus constituintes, com o determinante incentivo da mídia (muito comercial e pouco científica), vem confundindo o comportamento nutricional dos adolescentes e jovens.
A inatividade ou sedentarismo, é crescentemente estimulada pela tecnologia do bem estar físico. Cerca de 28,8% da população americana relatam ausência de atividade física recreacional. Na região sul brasileira (em 1993) o sedentarismo atingiu 82% das mulheres (e 69% dos homens) com uma taxa de obesidade de 27% (e 16%, respectivamente).
Estima-se o acúmulo de peso de 0,5 kg/ano após os 25 anos, principalmente dentre as mulheres, atingindo acréscimo de 30% aos 70 anos. Paralelamente haveria decréscimo de 200-300g de massa magra/ano. Segundo dados canadenses, a maior velocidade de ganho de peso ocorre nas décadas de 40 (9,3 kg) e 50 (8,8 kg) anos, sendo que o aumento da adiposidade subcutânea (tricipital) é praticamente constante a partir dos 30 anos.
Saliente-se que o número de horas semanais gastas com esportes ou exercícios regulares decresce grandemente a partir dos 20 anos.
Desta forma, o envelhecimento é acompanhado pela inatividade física, expansão adiposa e atrofia muscular, com ligeiro aumento no peso corpóreo.
O sedentarismo lidera com 60% dentre os fatores de risco modificáveis para as doenças cardiovasculares, bem acima do tabagismo (30%), hipertensão arterial sistêmica (20%) e diabetes mellitus (cerca de 8%).
Há demonstrações que o acréscimo de 10 kg no peso de um indivíduo adulto resulte em elevação da pressão arterial na ordem de 3 mmHg para a sistólica e 2,3 mm de Hg para a diastólica. Nessa ordem, o aumento de 10% no peso elevaria a PA sistólica em 6,5 mmHg, a colesterolemia em 12 mg/dl e a glicemia basal em 2 mg/dl. Esses sinais do síndrome plurimetabólico associados à redução da capacidade oxidativa, diminuição do ritmo metabólico e fraqueza osteo-articular, que caracterizam a síndrome sarcopênica, constituem as principais morbidades associadas ao sedentarismo.
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Este artigo é um resumo. O artigo em sua íntegra pode ser encontrado na revista Nutrição em Pauta, edição Set/Out/2000
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