VII Congresso Internacional de Nutrição, Longevidade & Qualidade de Vida
VII Congresso Internacional de Gastronomia e Nutrição
II Fórum Nacional de Nutrição
I Simpósio Internacional da American Dietetic Association


 
Consenso Nacional
 
Carta do II Fórum Nacional de Nutrição – São Paulo

O II Fórum Nacional de Nutrição, realizado em São Paulo, nos dias 26 e 27 de outubro de 2006, cujo tema central é “Definindo os Rumos da Nutrição no Brasil”,

Considerando:

- O fenômeno da globalização e seus efeitos no cenário da transição epidemiológica e nutricional mostram que 82% da população vivem na zona urbana, 48% das mortes ocorrem por doenças crônicas não transmissíveis e que, segundo a POF (2003) 12 a 30% da renda mensal são gastos com refeições fora do domicílio;

- A responsabilidade governamental em promover a saúde e incorporar as sugestões
da Estratégia Global da Organização Mundial de Saúde;

- A obesidade atinge cerca de 11% da população brasileira, com maior prevalência no sexo feminino e de menor renda, sendo responsável por 80 a 100 mil mortes por ano. E que esta doença é resultante da interação da nutrição, estilo de vida e genoma humano;

- As comorbidades da obesidade (diabetes mellitus, dislipidemias, hipertensão arterial, coronariopatias e síndrome metabólica) possuem forte impacto social e econômico na área de saúde e da produtividade individual;

- O diabetes mellitus como principal causa de cegueira adquirida em indivíduos na faixa etária de 20 a 74 anos, como causa de falência renal, diálise e transplante, como principal causa de amputação de membros, como sexta maior causa de morte devido a doença, como responsável pelo aumento em 2 a 4 vezes da taxa de doenças cardiovasculares e acidente vascular cerebral e responsável pela diminuição em 15 anos da expectativa de vida;

- O impacto das imunodeficiências sobre o estado nutricional pode ocasionar a desnutrição energético-protéica associada a carências de vitaminas A, E e D e minerais como ferro, zinco e selênio;

- O câncer como resultante da interação entre fatores ambientais (consumo de tabaco, dieta inadequada e estilo de vida) e genoma humano, constitui a segunda causa de morte por doença no mundo (cerca de 4 milhões/ano), sendo os de pulmão e mama os mais incidentes, e o fato da alimentação ser o fator ambiental mais importante, no desenvolvimento destas doenças;

- O aumento do consumo de gorduras saturadas, trans e colesterol e a desproporção entre ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 pode promover efeitos deletérios sobre a integridade das funções celulares de proteção inflamatória e imunológica com aumento do risco para doenças crônicas não transmissíveis;

- Os potenciais efeitos metabólicos e/ou fisiológicos que os alimentos funcionais como, por exemplo, fitoquímicos, isoflavonas, ômega-3, probióticos e prebióticos apresentam na saúde humana;

- Os aspectos nutricionais e sensoriais, que necessitam ser resgatados como elementos essenciais para o controle de qualidade nas unidades produtoras de refeições, como estratégia de promoção da saúde;

- O aumento da expectativa de vida e, consequentemente, o fenômeno de envelhecimento da população que têm demandado dos hospitais novas estratégias para fazer frente aos novos perfis de saúde e doença, além do aumento da desnutrição intra-hospitalar;

- A carência de informações científicas e da atuação profissional do nutricionista em relação à prática da atividade física por portadores de deficiências físicas;

- A nutrição esportiva é uma ciência bastante recente e os resultados dos estudos científicos nesta área ainda são controversos e o consumo indiscriminado de recursos ergogênicos nutricionais pelos praticantes de exercícios físicos, atletas e até mesmo sedentários;

- O aumento da atividade física como condicionante da qualidade e da esperança de vida;

- A fome oculta que, sem sintomatologia visível, interfere em várias etapas do processo metabólico, do sistema imunológico e da defesa antioxidante, comprometendo o desenvolvimento físico e mental do indivíduo decorrente da inadequação qualitativa e quantitativa da dieta da população brasileira;

- A população Brasileira apresenta deficiência e consumo inadequado de micronutrientes (ferro, vitamina A, zinco e cálcio) e vários são os fatores que podem contribuir para isto: classe social, aspecto comportamental e ambiental;

- Nas últimas décadas, houve declínio significativo da desnutrição infantil brasileira atribuído não apenas aos programas de suplementação alimentar, mas também a maior cobertura dos serviços de saneamento, saúde e educação;

- O direito humano de acesso à alimentação saudável diante de um mundo globalizado e no Brasil que é um país marcadamente desigual;

- A existência do sistema de vigilância alimentar e nutricional (SISVAN) como um sistema que informa as tendências das condições de alimentação e nutrição da população e seus fatores determinantes com fins de planejamento e avaliação dos efeitos de políticas, programas e intervenções populacionais;

Recomenda:

- A adoção do Guia Alimentar, instrumento oficial da Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, que define as diretrizes alimentares para serem utilizadas na orientação de escolhas mais saudáveis de alimentos pela população brasileira a partir de dois anos de idade;

- A promoção da alimentação saudável pelo governo, pela família, por empresas privadas e por profissionais, com ações centradas em trabalhos complementares de estados e municípios com base nas diretrizes do Guia Alimentar;

- Fortalecer as estratégias de intervenção nas deficiências de micronutrientes, que incluem educação nutricional, fortificação dos alimentos, suplementação, práticas de saúde pública (incentivo ao aleitamento materno e imunizações) e medidas sócio-políticas e ambientais;

- Ênfase na hipótese de que o aumento do consumo total de alimentos não representa um mecanismo de prevenção/combate de micronutrientes, e que o mais importante é garantir a qualidade dos alimentos consumidos;

- Que a atuação do nutricionista objetive a prevenção de estados carênciais oriundos do quadro de imunodeficiências, atentando para a utilização de fitoquímicos, ácidos graxos ômega-3, prebióticos, probióticos na manutenção da homeostasia da mucosa intestinal e assim na promoção da saúde;

- A contagem de carboidratos, como estratégia nutricional, para o controle metabólico de indivíduos portadores de diabetes mellitus;

- No tratamento da obesidade e controle de peso a saciedade possui um papel vital. A melhor abordagem é a multiprofissional, onde a parte comportamental, farmacológica e nutricional deve ser bem manejada pelo profissional da saúde;

- A intensificação dos estudos quanto à utilização dos alimentos funcionais considerando as interações entre nutrição, dieta e genes;

- O enfoque preventivo nas ações de nutrição, desde a infância, no sentido de evitar o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis;

- O aleitamento materno como protetor da obesidade infantil;

- O consumo de óleos de sementes e grãos, como fonte de ácidos graxos ômega-6, e óleo de linhaça e peixes, como fonte de ácidos graxos ômega-3, nas proporções de 5:1 até 10:1;

- A adoção das recomendações nutricionais atuais quais sejam: gordura total entre 25-35%, ácidos graxos saturados menor que 7%, ácidos graxos poliinsaturados até 10%, sendo ácidos graxos ômega-6 entre 5-10%, ácidos graxos ômega-3 entre 0,6-1,2%, ácidos graxos trans menor que 1% e ácidos graxos monoinsaturados até 20%, carboidratos entre 45-75%, fibras maior que 25 g/dia, açúcar refinado menor que 10%, proteína entre 10 a 15%, colesterol menor que 300 mg/dia, cloreto de sódio menor que 6g/dia e sódio menor que 2,4g/dia, frutas e hortaliças maior que 400 g/dia (5 porções), pescados duas vezes por semana e calorias totais suficientes para alcançar o balanço energético e assim manter o peso corporal desejável e podem prevenir a incidência de câncer e de outras doenças crônicas não-transmissíveis;

- A subsitituição de parte da proteína de origem animal por proteínas de origem vegetal, com ênfase no consumo de soja, com recomendação mínima de 25g de proteína de soja/dia ou 60 g/dia do grão de soja, preferencialmente em fontes alimentares íntegras como grãos, farinhas e tofu. Sendo esta substituição benéfica tanto na prevenção como no tratamento de várias doenças;

- A alimentação equilibrada e variada incluindo, diariamente, alimentos de todos os grupos na proporção correta para a garantia de fornecimento dos alimentos com propriedades funcionais e como estratégia eficaz para manutenção da saúde e redução dos riscos de doenças;

- Aumentar a abrangência da noção de “saudável” para além dos alimentos em si, com valorização dos aspectos culturais e sociais;

- Estabelecer medidas de intervenção na produção de refeições, tais como: redução do teor de gordura das preparações, frituras e do per capita de carne, objetivando a diminuição da densidade energética destas refeições. Sendo essencial promover as modificações dietéticas mantendo os aspectos sensoriais dos alimentos;

- A adoção de iniciativas humanizadoras no ambiente hospitalar por parte dos profissionais de saúde, incluindo-se o nutricionista, nas estratégias que associem a função nutricional e higiênico-sanitária, com a função convivial e hedônica da alimentação, tais como, a avaliação da qualidade alimentar e nutricional das refeições, a avaliação real da ingestão alimentar do paciente, a comissão de cardápios, os testes de degustação, as oficinas educativas, refeitórios para pacientes, revisão de utensílios, dentre outros aspectos;

- A atuação do nutricionista tanto na pesquisa científica como na orientação nutricional para os portadores de deficiência física praticantes de atividade física e atletas;

- A atuação do nutricionista em academias, clubes e centros desportivos, para a promoção de ações educacionais, e em laboratórios de pesquisa, para a realização de estudos científicos que garantam o uso adequado dos suplementos, quando necessário, que visem o melhor desempenho esportivo;

- Desenvolvimento de estudos científicos no sentido de investigar a ação potencial dos alimentos funcionais no exercício físico;

- A ampliação da vigilância nutricional a outros grupos vulneráveis, como gestantes, adultos, adolescentes, subsidiando ações mais efetivas para prevenção e controle dos
agravos, assim como promoção de saúde;

- Aumento do número de estudos multicêntricos com delineamento semelhante para avaliação do impacto dos programas de intervenção nutricional e comparação de seus resultados nas diferentes regiões do país;

-Ampliação e fortalecimento da implantação e implementação do SISVAN (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional) nos municípios brasileiros;

- Uma maior articulação de múltiplos setores, incluindo o governo, a comunidade científica, a indústria, a mídia e a sociedade civil organizada, para o sucesso de estratégias e programas que visem combater as deficiências nutricionais, de forma a subsidiar e aperfeiçoar recursos e ações no contexto de um programa de âmbito nacional.


Comissão Científica :

Ana Vládia Bandeira Moreira (UFRN/RN)
Anete Araújo de Sousa (UFSC/SC)
Adriana Alvarenga (Gold/SP)
Adriana Baddini Feitoza (UFRJ/RJ)
Ainá Innocencio da Silva Gomes (FMIT/MG)
Andréa Ramalho (UFRJ/RJ)
Anete Araujo de Souza (UFSC/SC)
Avany Fernandes Pereira (UFRJ/RJ)
Beatriz Shaan (UFRGS/RS)
Bethânia Hering (UNIVALI/SC)
Carlos Alberto Werutsky (UFRGS/RS)
Carmen Zita Pinto Coelho (UNIBH/MG)
Cláudia D. Schneider (PUC/RS)
Conceição Chaves (UFPE/PE)
Cynthia Antonnaccio (Equilibrium/SP)
Daniela Souzalima Campos (SES/MG)
Dillian Goulart (Ministério da Saúde/DF)
Elyne Montenegro Engstrom (Fiocruz/SMS/RJ)
Erika Reinehr Ribeiro (Clinica Salute/DF)
Flávia Carvalho (UFPE/PE)
Ivete Ciconet Dornelles (AGAN/RS)
Josefina Bressan (UFV/MG)
Luisiana Lamour (Hospital Português Real Geriavida/PE)
Lupércio Cançado Farah (Newton Paiva/MG)
Maria do Carmo Fontes de Oliveira (UFV/MG)
Maria Hélida Guedes Logrado(HRAN/SES/GDF)
Maria Margareth Veloso Naves (UFG/GO)
Maria S. Silva (UFG/GO)
Marcia Daskal Hirschbruch (Recomendo/SP)
Michele Lessa de Oliveira (Ministério da Saúde/DF)
Monique Pedruzzi (UVA/RJ)
Nailza Maestá (UNESP-UNIFAC/Botucatu)
Narayana Reinehr Ribeiro (Clinica Salute/DF)
Nataniel Viuniski (Hospital Unimed Caxias do Sul /RS)
Patricia Pires Queiroz (SES/DF)
Patrícia Schneider (UFRGS/RS)
Paulo Henkin (Secretaria Estadual Saúde/RS)
Rijane Maria de Barros dos Santos (Sec. da Saúde/PE)
Roberta Costi (UPE/PE)
Rita de Cássia Gonçalves Alfenas (UFV/MG)
Rossana Pacheco da Costa Proença (UFSC/SC)
Ruth Guilherme (UFPE/PE)
Sibele B. Agostini (Nutrição em Pauta/SP)
Silvia M.F.Cozzolino (USP/SP)
Silvia Regina Dias Médici Saldiva (SES/SP)
Sônia Lucena (CONSEA/PE)
Tais Porto Oliveira (CGPAN/MS/DF)
Teresa Helena Macedo da Costa (UnB/DF)
Vera Lúcia Magni (AGAN/RS)
Viviane Kanufre (HC/UFMG/MG)